http://www.youtube.com/watch?v=XrOUYtDpKCc Ballet - Stravinsky Le Sacre du Printemps - P Boulez Orch de Paris 2002
Sagração da Primavera
(Homenagem a Stravinski)*
A chuva está voltando cedo,
muito cedo.
Era esperada só para o final de setembro.
Um pingo aqui, outro ali,
vagarosamente vai se apresentando,
até que nimbos repentinos derramam -se copiosamente,
sobre o solo rude e desidratado
do cerrado,
mal terminado o mês de agosto.
A cada gota que desaba
uma bruma amarelada de poeira sobe
para desaparecer, em seguida, na brisa úmida
que , fria, vacilantemente se anuncia.
Em decadência,
o ar seco e inodoro do inverno vai se descompondo pela madrugada,
ao confrontar-se com o cheiro da sexualidade exuberantemente bela
da florescência ,
cujas plantas prenunciam a primavera.
A chuva chega forte e, furiosa,
tamborila nas vidraças,
derruba as últimas folhas secas,
que, com graça, caem pelo chão .
e , como pequenos barcos, navegam
trepidantes, solitárias e sem rumo sobre as enxurradas
Um mês a mais, e entramos no território da próxima estação,
para comemorar, no 21, o esquecido Dia da Árvore .
Na contabilidade da existência ganhamos e
esperamos ganhar ainda muitas coisas,
mas não tem contas aquelas que lá se vão.
Nessa troca, perdemos, entretanto, o medo.
Já não nos assusta sequer o barulho do trovão,
que, bramindo, faz tremer os homens mas, com raios, ilumina a escuridão .
Passa a ser menos uma ameaça e mais uma anunciação.
Como uma adolescente, molhada, a terra explode do seu cio reprimido.
Corpos e mentes sentem o vigor dessa mudança
de cenário e de sentido.
É alvorada, hora de despertar com a natureza,
com os pássaros que, da revoada perdidos, retornam aos primeiros abrigos,
e, com eles , a certeza
de que a paisagem colorida , no horizonte,
parece mais alegre e divertida:
ar puro , límpido, pleno de vida.
Coração lavado,
lágrimas e mágoas ressequidas ,
lembranças ,
foram todas gradual e vorazmente digeridas .
No renascer , surgem novas esperanças.
A sagração da primavera atrai para os campos milhares de de fiéis.
Já não importa os sacrifìcios ou se vão os dedos e os anéis.
Como dizem os indianos: acendem-se as lamparinas,
e, assim, fica mais fácil compreender , sob a uma luz tão pequenina ,
que, pelo menos, sazonalmente, sobre a terra desce a mão divina.
Aylê - Salassiê - 23.08.09
Origem: Wikipédia
* Le Sacre du printemps (1913) é um balé em dois atos que conta a história da imolação de uma jovem que deve ser sacrificada como oferenda ao deus da primavera em um ritual primitivo, a fim de trazer boas colheitas para a tribo. Música a do russo Igor Stravinsky, coreografia de Vaslav Nijinsky. Estreou em 29 de maio de 1913 no Théâtre des Champs-Élysées, em Paris.
- A adoração da terra (8 seções);
- O sacrifício (6 seções).