quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Uma análise socrática dos tempos atuais - Frei Beto

Vida à Venda - Lucia Pellegrino - Artista plástica de Brasília -
Acesse o site e conheça outras obras:  www.luciapellegrino.com.br

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom então de manhã você pode brincar dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã....' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada.

Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.

Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

A palavra hoje é 'entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse..

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping Center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.

Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:

- "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

José Saramago

José Saramgo na infância - Foto: Blog Conversavinagrada

"Filho exige que mudemos nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos"
(José Saramago)

Dica: Luciane (Curitiba) - Mercedes (Cabo Frio), João Rodrigues (Rio de Janeiro)

Indo contra a "curtura" corporativa do "Mate um Leão por dia"

Sabe aquelas frases e "curturas" corporativas, algumas bem idiotas, que são trazidas pelo "Presidente" de empresa multinacional que participou da última reunião de "STAFF" em Nova York e, na primeira reunião com a sua equipe, cita todas, que imediatamente passam a ser "incorporadas" pelos seus VPs, diretores, gerentes e aí vai escada abaixo da pirâmide hierárquica.?
Passam a ser implementadas e citadas a todo momento, mesmo quando o momento não exige, ficando a coisa toda fora de um contexto, sem ninguém parar para avaliar, se o que está sendo dito e propagado faz algum sentido, com a cultura do país, das pessoas, se será entendido e assimilado por todos de maneira correta. Ninguém contesta, apenas dá uma de "papagaio" e se acha o cara. 
Cansei de ouvir essas bobagens, que são logo esquecidas e tornam-se sem sentido.
Exemplos: "Mate um Leão por dia", "Formamos um mesmo time", "Estamos todos no mesmo barco", "Tem que vestir a camisa", "Tem que suar a camisa", "Tem que ter estômago de aço", "Qualidade Total", "Politicamente correto", "O emissor é responsável pela mensagem", "Tem que correr atrás", "Não adianta dar o peixe, tem que ensinar a pescar", e por aí vai.
Frases feitas e ditas por gente vazia que se acham donos do poder corporativo, seguidas por pessoas acomodadas, que não pensam e não discutem seus pontos de vista e não defendem seus valores pessoais.
Pessoas pasteurizadas, fáceis de manobrar, obedientes, só dizem sim.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo feliz

(Zé Ramalho)
Foto: UNIVERSO - Santiago do Chile

Outro dia, tive o privilégio de fazer
algo que adoro: fui almoçar com um
amigo, hoje chegando perto dos seus
70 anos.

Gosto disso. São raras as chances que
temos de escutar suas histórias e absorver
um pouco de sabedoria das pessoas que
já passaram por grandes experiências
nesta vida.

Depois de um almoço longo, no qual
falamos bem pouco de negócios mas
muito sobre meus negócios.

Contei um pouco do que estava fazendo
e, meio sem querer, disse a ele: - Pois é.
Empresário, hoje, tem que matar seu leão.
Você deveria mesmo era cuidar dele.

Fiquei surpreso com a resposta e ele
provavelmente deve ter notado minha
surpresa, pois me disse:
- Deixe-me contar uma história que
quero compartilhar com você.

- Existe um ditado popular antigo que diz
que temos que "matar um leão por dia".
Por muitos anos eu acreditei nisso, e
acordava todos os dias querendo encontrar
o tal leão.

A vida foi passando e muitas vezes me vi
repetindo essa frase.
Quando cheguei aos 50 anos, meus negócios
já tinham crescido e precisava trabalhar um
pouco menos, mas sempre me lembrava do
tal leão. Afinal, quem não se preocupa quando,
tem que matar um deles por dia?

Pois bem. Cheguei aos meus 60 anos e decidi
que era hora de meus filhos começarem a
tocar a firma. Mas qual não foi minha surpresa
ao ver que nenhum dos três estava preparado!

A cada desafio que enfrentavam, parecia que
iam desmoronar emocionalmente. Para minha
tristeza tive de voltar à frente dos negócios, até
conseguir encontrar alguém, que hoje é nosso
diretor-geral.

Este "fracasso" me fez pensar muito.
O que fiz de errado no meu plano de sucessão?
Hoje, do alto dos meus quase 70 anos, eu tenho
uma suspeita: a culpa foi do leão.

Novamente, eu fiz cara de surpreso.
O que o leão tinha a ver com a história?

Ele, olhando para o horizonte, como que
tentando buscar um passado distante,
me disse: - É. Pode ser que a culpa não
seja cem por cento do leão, mas fica mais
fácil justificar dessa forma. Porque, desde
quando meus filhos eram pequenos, dei
tudo para eles.

Uma educação excelente, oportunidades
de morar no exterior, estágio em empresas
de amigos.

Mas, ao dar tudo a eles, esqueci de dar um
leão para cada, que era o mais importante.

Meu jovem, aprendi que somos o resultado
de nossos desafios.
Com grandes desafios, nos tornamos grandes.
Com pequenos desafios, nos tornamos pequenos.

Aprendi que, quanto mais bravo o leão, mais
gratos temos que ser.
Por isso, aprendi a não só respeitar o leão, mas
a admirá-lo e a gostar dele.

A metáfora é importante, mas errônea: não
devemos matar um leão por dia, mas sim
cuidar do nosso.
Porque o dia em que o leão, em nossas vidas
morre, começamos a morrer junto com ele.

Depois daquele dia, decidi aprender a amar
o meu leão.
E o que eram desafios se tornaram oportunidades
para crescer, ser mais forte, e "me virar" nesta
selva em que vivemos.

Portanto, não matem um leão por dia,
mas sim aprenda a amar o seu.
A capacidade de luta que há em você, precisa
de adversidades para revelar-se.

(Pierre Schermann)
DICA:LUCIANE, amiga e colaboradora de Curitiba

Um grande amor não termina, apenas não foi vivido em sua plenitude

"Nunca disseram adeus, nem até mais, nem qualquer outra coisa que desse possibilidade de um fim ou de um próximo encontro; terminaram as conversas com beijos, quando mais frios com abraços. Talvez ele a ame. Talvez ela quisesse saber disso. Por causa da mudez das emoções que sentiam, eles não sabiam que destino davam a sí. O bonito deles é a coisa mais simples em suas histórias: de alguma forma silenciosa e cheia de esperança, eles esperavam um pelo outro, embora nenhum pedido tenta sido feito"
Cah Morandi

"Há amores que não tem mesmo fim, ficam pela metade"
Carpentier

Dica da amiga Luciane de Curitiba . Foto:Internet, desconheço o autor, caso alguém saiba, favor enviar-me o nome para o devido crédito.