domingo, 30 de março de 2014

Chá da tarde com Charles Bukowski


Foto: OBVIUS - Poemas - REVISTA BULA

o pássaro azul
(Tradução: Pedro Gonzaga)

há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí,
quer acabar comigo?
(…) há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
como nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar,
mas eu não choro,
e você ?

então queres ser um escritor?
(Tradução: Manuel A. Domingos)

se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.

quatro e meia da manhã
(Tradução: Jorge Wanderley)

os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre
quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro
e dirão:
“ele tá bêbado de novo”,
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo
e
como algo esfaqueado e
cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.

poema nos meus 43 anos
(Tradução: Jorge Wanderley)

terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida—
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter um quarto.
…de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores , médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi…
e você se vira
para o lado pra pegar o sol
nas costas e não
direto nos olhos.

uma palavrinha sobre os fazedores de poemas rápidos e modernos
(Tradução: Jorge Wanderley)

é muito fácil parecer moderno
enquanto se é o maior idiota jamais nascido;
eu sei; eu joguei fora um material horrível
mas não tão horrível como o que leio nas revistas;
eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais
que não me deixará fingir que sou
uma coisa que não sou —
o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa
na poesia
e o fracasso de uma pessoa
na vida.
e quando você falha na poesia
você erra a vida,
e quando você falha na vida
você nunca nasceu
não importa o nome que sua mãe lhe deu.
as arquibancadas estão cheias de mortos
aclamando um vencedor
esperando um número que os carregue de volta
para a vida,
mas não é tão fácil assim—
tal como no poema
se você está morto
você podia também ser enterrado
e jogar fora a máquina de escrever
e parar de se enganar com
poemas cavalos mulheres a vida:
você está entulhando a saída — portanto saia logo
e desista das
poucas preciosas
páginas.

outra cama
(Tradução: Pedro Gonzaga)

outra cama
outra mulher
mais cortinas
outro banheiro
outra cozinha
outros olhos
outro cabelo
outros
pés e dedos.
todos à procura.
a busca eterna.
você fica na cama
ela se veste para o trabalho
e você se pergunta o que aconteceu
à última
e à outra antes dela…
é tudo tão confortável —
esse fazer amor
esse dormir juntos
a suave delicadeza…
após ela sair você se levanta e usa
o banheiro dela,
é tudo tão intimidante e estranho.
você retorna para a cama e
dorme mais uma hora.
quando você vai embora é com tristeza
mas você a verá novamente
quer funcione, quer não.
você dirige até a praia e fica sentado
em seu carro. é meio-dia.
— outra cama, outras orelhas, outros
brincos, outras bocas, outros chinelos, outros
vestidos
cores, portas, números de telefone.
você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.
para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais
sensato.
você dá a partida no carro e engata a primeira,
pensando, vou telefonar para janie logo que chegar,
não a vejo desde sexta-feira.

um poema de amor
(Tradução: Jorge Wanderley)

todas as mulheres
todos os beijos delas as
formas variadas como amam e
falam e carecem.
suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.
principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a
torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.
há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram
enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.
sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar — eu estava ocupado
com coisas maiores.
mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro
olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só um
aprendiz.
sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho
enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas
poucas.
algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é
desprovida de sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em
outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.
todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos de dormir
os tapetes as
fotos as
cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve
uma risada.
essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me
sustentaram, me
sustentaram.

já morreu
(Tradução: Pedro Gonzaga)

sempre quis transar com
henry miller, ela disse,
mas quando cheguei lá
era tarde demais.
diabos, eu disse, vocês
sempre chegam tarde demais, garotas.
hoje já me masturbei
duas vezes.
não era esse o problema dele,
ela disse. a propósito
como você consegue bater
tantas?
é o espaço, eu digo,
todo o espaço entre
os poemas e os contos, é
intolerável.
você deveria esperar, ela disse,
você é impaciente.
o que você pensa de céline?
perguntei.
queria transar com ele também.
já morreu, eu disse.
já morreu, ela disse.
importa-se de ouvir uma
musiquinha? perguntei.
pode ser legal, ela disse.
dei-lhe ives.
era tudo que me restava
naquela noite.

Encurralado
(Tradução: Pedro Gonzaga)

bem, eles diziam que tudo terminaria
assim: velho. o talento perdido. tateando às cegas em busca
da palavra
ouvindo os passos
na escuridão, volto-me
para olhar atrás de mim…
ainda não, velho cão…
logo em breve.
agora
eles se sentam falando sobre
mim: “sim, acontece, ele já
era… é
triste…”
“ele nunca teve muito, não é
mesmo?”
“bem, não, mas agora…”
agora
eles celebram minha derrocada
em tavernas que há muito já não
frequento.
agora
bebo sozinho
junto a essa máquina que mal
funciona
enquanto as sombras assumem
formas
combato retirando-me
lentamente
agora
minha antiga promessa
definha
definha
agora
acendendo novos cigarros
servido mais
bebidas
tem sido um belo
combate
ainda
é.

confissão
(Tradução: Jorge Wanderley)

esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
hank!
e hank não vai responder
não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto
eu quero que ela
saiba
que dormir todas as noites
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas
e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora ser ditas:
eu te
amo.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Inventário de viagem

Foto: UNIVERSO - ZAPALLAR - CHILE

Zapallar é uma comuna da província de Petorca, localizada na Região de Valparaíso, Chile. Possui uma área de 288,0 km² e uma população de 5.659 habitantes.

Um jovem advogado foi indicado para inventariar os pertences de um senhor recém falecido. Segundo o relatório do seguro social, o idoso não tinha herdeiros ou parentes vivos. Suas posses eram muito simples. O apartamento alugado, um carro velho, móveis baratos e roupas puídas. “Como alguém passa toda a vida e termina só com isso?”, pensou o advogado. Anotou todos os dados e ia deixando a residência quando notou um porta-retratos sobre um criado mudo.

Na foto estava o velho morto. Ainda era jovem, sorridente, ao fundo um mar muito verde e uma praia repleta de coqueiros. À caneta escrito bem de leve no canto superior da imagem lia-se “sul da Tailândia”. Surpreso, o advogado abriu a gaveta do criado e encontrou um álbum repleto de fotografias. Lá estava o senhor, em diversos momentos da vida, em fotos em todo canto do mundo.

Em um tango na Argentina, na frente do Muro de Berlim, em um tuk tuk no Vietnã, sobre um camelo com as pirâmides ao fundo, tomando vinho em frente ao Coliseu, entre muitas outras. Na última página do álbum um mapa, quase todos os países do planeta marcados com um asterisco vermelho, indicando por onde o velho tinha passado. Escrito à mão no meio do Oceano Pacífico uma pequena poesia:

Não construí nada que me possam roubar.
Não há nada que eu possa perder. 
Nada que eu possa tocar,
Nada que se possa vender.

Eu que decidi viajar,
Eu que escolhi conhecer,
Nada tenho a deixar
Porque aprendi a viver.

Dica da amiga Silvana Bárbara, lá das bandas do Tocantins, porta de entrada para o PARAÍSO

Receita mineira di Repôi Picadim


Retirado do FB

terça-feira, 25 de março de 2014

Lançamento da Enciclopédia do Rádio Esportivo Mineiro - José Céu Azul Soares


Ontem, no estádio do Mineirão, foi o lançamento da Enciclopédia do Rádio Esportivo Mineiro, organizado pela Nair Prata e Maria Cláudia Santos.

Evento concorrido, com a presença de muitos dos radialistas biografados e seus familiares.

Eu e minha mulher, Walcira, representamos a família.

Cada biografado ou representante da família foi agraciado com um livro.

Senti e pude sentir a emoção de muitas pessoas durante o evento, vi jovens radialistas e muitos com rugas, cabelos brancos, todos com a mesma emoção de terem sido biografados e lembrados. 

Encontros e reencontros com atuais e antigos companheiros e amigos.

Já comecei a leitura e estou tendo o prazer de conhecer a história de pessoas que batalharam pelo esporte em Minas Gerais desde 1950 aos dias atuais.

Muitos deles representantes de um trabalho feito com amor e responsabilidade, mas numa época de uma infraestrutura precária , tanto nos estádios, como nas redações e estúdios das emissoras. Sem falar na simplicidade e qualidade dos equipamentos usados pela maioria das emissoras.

Quando garoto, conhecei vários deles que trabalharam na mesma época em que meu pai atuou e estou tendo a oportunidade de ver suas fotos e ler suas biografias.

Está sendo uma viagem no tempo ler as biografias, lembrar de nomes e ver fotos desses profissionais, mais do que isso, amantes do esporte que dedicaram grande parte de suas vidas em transmitir e divulgar a emoção de cada partida, lances, gols, penaltis perdidos, bolas nas traves, vitórias, derrotas, os muitos campeonatos, inúmeras conquistas, em todo os esportes que consagraram nomes e o nome de Minas Gerais no cenário esportivo nacional e mundial.


Nair Prata e o Blogueiro


Maria Cláudia Santos e Universo

Lindo trabalho feito com competência, qualidade e carinho pela Nair e Cláudia, juntamente com toda a equipe de biógrafos.

Agradeço em nome da família - Filhos: Stella Maris Cristina, Dorinha, Paulinho, Universo. Netos: Ulisses Soares e Juliana Soares, Luan. Bisnetos: Beatriz, Gabriel e Matteo. Nora e Genro: Renata Soares e Andrea Zanna, a atenção e carinho com que nos receberam durante o evento, na coleta de dados e pela biografia final escrita pela Cláudia.

Um agradecimento ao Chico Maia, que pelo seu blog, permitiu que minha filha Juliana, no Chile, visse a procura por contatos para encontrar meu pai, para que ele pudesse ser um dos biografados. Internet é algo fantástico.


BIOGRAFIA PUBLICADA DE JOSÉ CÉU AZUL SOARES


FOTOS: WALCIRA

Os grandes enjeitados - Euclides da Cunha - BLOG DO NOBLAT

 Euclides da Cunha

Euclides da Cunha aos 9 anos de idade

Os grandes enjeitados - Euclides da Cunha
Servis!... dançai, folgai - na régia bacanália... 
Quadro-voz essa luz que nos raios espalha 
A treva e o crime atrai!...
Valsai - nesse delírio atroz, brutal que assombra - 
Folgai... a grande Luz espia-vos na sombra! 
Folgai, cantai - valsai!...
Que vos importa - ó vis, caricatos atletas - 
Se o povo dorme nu - nas lôbregas sarjetas - 
Entre o pântano e os Céus!....
Q'importa se essa luz - faz as noites da História! 
Q'importa se os heróis 'stão entre a lama e a Glória 
Entre a miséria e Deus!...
Q'importa-vos a dor; - a lágrima brilhante 
Do seio dos heróis -, estrela palpitante 
Que ao céu do porvir vai...
Q'importa-vos a honra, a consciência, a crença, 
A justiça, o dever!?... ah! vossa febre é imensa! - 
Folga, folgai, folgai!...
Q'importa-vos a Pátria...a pátria - é-vos um nome!.... 
Q'importa-vos o povo - esse galé da fome - 
Ó cortesãos, ó rei!?
Se o olhar das barregãs, de amor e febre aceso 
Vos ferve dentro d'alma - e se o direito é preso 
Nessa grilheta - Lei!
Fazeis bem em rir - ó pequeninos seres... 
O crime, o vício e o mal são os vossos deveres - 
Avante pois - gozai...
Atufai-vos - rolai ó almas guarida - 
No abismo fundo e frio - o seio da perdida!... 
- Cantai... cantai, cantai!...
Gritai com força! assim... não percebeis agora 
O eco de vossa voz?... - de vossa voz sonora - 
Tremer na vastidão!?
Não ouvis as canções que o seu frêmito espalha?... 
Ele desce de Deus - ó dourada canalha - 
Ele é – Revolução!…

 Euclides Rodrigues da Cunha (Cantagalo, Rio de Janeiro, 20 de janeiro de 1866 - Rio de Janeiro, 15 de agosto de 1909) - Além de muito conhecido pela prosa, Euclides também foi poeta, jornalista, geógrafo e engenheiro. Escreveu o notório Os Sertões - Campanha de Canudos e diversos artigos publicados nos jornais que trabalhou ao longo de sua vida.

Compartilhado do Blog do Noblat - Fotos: Internet - Casa da Cultura Euclides da Cunha

Uai? Uai é Uai, Uai ! Como surgiu a famosa expressão UAI dos mineiros


Fonte: FB - Não me lembro quem mandou, desculpe-me.

domingo, 23 de março de 2014

MPQ - Música Popular de Qualidade - Sonhos (Peninha) - Canta Monique Kessous




Quando o meu mundo
Era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho
Mais calma, mais alegria
No meu jeito de me dar
Quando a canção
Se fez mais forte
E mais sentida
Quando a poesia
Fez folia em minha vida
Você veio me falar
Dessa paixão inesperada
Por outra pessoa
Mas não tem revolta, não
Eu só quero
Que você se encontre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho, sim
Não tem desespero, não
Você me ensinou
Milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz
(Peninha)

Dica da amiga Sonia Nigri, do Rio de Janeiro

Havia um tempo - Mário Quintana

Havia um tempo de cadeiras na calçada. 

Era um tempo em que havia mais estrelas. 

Tempo em que as crianças brincavam sob a claraboia da lua. 

E o cachorro da cas
a era um grande personagem. 

E havia também o relógio de parede.

Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo!

- Mario Quintana


Fotografia: Antuérpia - BÉLGICA, 1949.

Dica da prima querida Mercedes Basílio diretamente de Cabo Frio

Prato do dia - Torteloni in brodo com queijo grana padano


A massa e o queijo são italianos e comprados em supermercado tipo gourmet ou delicatessen.

O brodo (caldo) de frango ou carne, é preparado quando se cozinha carne ou frango.
Reserve a água do cozimento, apure o tempero, com sal ( o necessário), 1 folha de louro, orégano duas pitadas (esfregue o orégano com as pontas dos dedos na palma de outra mão, para reavivar o aroma e sabor, antes de adicioná-lo ao brodo).
Deixe esfriar destampado. Tampe e congele em seguida.
Quando for usar o brodo, retire da geladeira e ponha para dar uma fervida.
Adicione um pouco de nós moscada ralada ao brodo (a gosto)
Cozinhe o torteloni no brodo, siga as instruções de tempo que constar na embalagem.
Rale o queijo e polvilhe por cima do torteloni servido no prato.

Preparo do prato e foto: UNIVERSO

Sombras com as mãos - Divertindo as crianças

Você se lembra dessa brincadeira? Vamos relembrar com os filhos e netos essas imagens?
Então, mãos a obra. 
Pegue um abajur ou uma lanterna, coloque atrás de suas mãos e projete as sombras na parede.
Tente fazer os movimentos das bocas dos bichos. Ensine as crianças a fazer as sombras.
Faça novas brincadeiras com sombras, projete objetos e movimente a luz, mostre como as imagens se modificam.


Chá da tarde com Ferreira Gullar

Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira)

O Mar Intacto
Impossível é não odiar
estas manhãs sem teto
e as valsas
que banalizam a morte.

Tudo que fácil se
dá quer negar-nos. Teme
o ludíbrio das corolas.
Na orquídea busca a orquídea
que não é apenas o fátuo
cintilar das pétalas: busca a móvel
orquídea: ela caminha em si, é
contínuo negar-se no seu fogo, seu
arder é deslizar.

Vê o céu. Mais
que azul, ele é o nosso
sucessivo morrer. Ácido
céu.
Tudo se retrai, e a teu amor
oferta um disfarce de si. Tudo
odeia se dar. Conheces a água?
ou apenas o som do que ela
finge?

Não te aconselho o amor. O amor
é fácil e triste. Não se ama
no amor, senão
o seu próximo findar.
Eis o que somos: o nosso
tédio de ser.

Despreza o mar acessível
que nas praias se entrega, e
o das galeras de susto; despreza o mar
que amas, e só assim terás
o exato inviolável
mar autêntico!

O girassol
vê com assombro
que só a sua precaridade
floresce. Mas esse
assombro é que é ele, em verdade.

Saber-se
fonte única de si
alucina.

Sublime, pois, seria
suicidar-nos:
trairmos a nossa morte
para num sol que jamais somos
nos consumirmos.


PRIMEIROS ANOS

Para uma vida de merda
nasci em 1930
na rua dos prazeres

Nas tábuas velhas do assoalho
por onde me arrastei
conheci baratas, formigas carregando espadas
caranguejeiras
que nada me ensinaram
exceto o terror

Em frente ao muro negro no quintal
as galinhas ciscavam, o girassol
Gritava asfixiado
longe longe do mar
(longe do amor)

E no entanto o mar jazia perto
detrás de mirantes e palmeiras
embrulhado em seu barulho azul

E as tardes sonoras
rolavam
sobre nossos telhados
sobre nossas vidas .
Do meu quarto
ouvia o século XX
farfalhando nas árvores lá fora.

Depois me suspenderam pela gola
me esfregaram na lama
me chutaram os colhões
e me soltaram zonzo
em plena capital do país
sem ter sequer uma arma na mão.

NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
   está fechado:
   "não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

            O poema, senhores,
            não fede
            nem cheira
.
POEMA

Se morro
universo se apaga como se apagam
as coisas deste quarto
                                 se apago a lâmpada:
os sapatos - da - ásia, as camisas
e guerras na cadeira, o paletó -
dos - andes,
          bilhões de quatrilhões de seres
e de sóis
        morrem comigo.

Ou não:
       o sol voltará a marcar
       este mesmo ponto do assoalho
       onde esteve meu pé;
                                     deste quarto
       ouvirás o barulho dos ônibus na rua;
           uma nova cidade
           surgirá de dentro desta
           como a árvore da árvore.

Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens
a mesma história que eu leio, comovido.

NO CORPO

De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares

O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite
Agora são apenas esta
contração (este clarão)
do maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente. 

MADRUGADA

Do fundo de meu quarto, do fundo
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no músculo da noite
a noite

a noite ocidental obscenamente acesa
sobre meu país dividido em classes

EXTRAVIO

Onde começo, onde acabo,
se o que está fora está dentro
como num círculo cuja
periferia é o centro?

Estou disperso nas coisas,
nas pessoas, nas gavetas:
de repente encontro ali
partes de mim: risos, vértebras.

Estou desfeito nas nuvens:
vejo do alto a cidade
e em cada esquina um menino,
que sou eu mesmo, a chamar-me.

Extraviei-me no tempo.
Onde estarão meus pedaços?
Muito se foi com os amigos
que já não ouvem nem falam.

Estou disperso nos vivos,
em seu corpo, em seu olfato,
onde durmo feito aroma
ou voz que também não fala.

Ah, ser somente o presente:
esta manhã, esta sala.

Poemas e foto: Internet

WILLIAM SHAKESPEARE..

Lua cheia: UNIVERSO

Aprendi que Amores eternos podem acabar em uma noite.
Que grandes amigos podem se tornar grandes inimigos.
Que o amor sozinho não tem a força que imaginei.
Que ouvir os outros é o melhor remédio e o pior veneno. 
Que a gente nunca conhece uma pessoa de verdade, afinal, gastamos uma vida inteira para conhecer a nós mesmos. 
Que os poucos amigos que te apóiam na queda, são muito mais fortes do que os muitos que te empurram.
Que o "nunca mais" nunca se cumpre, que o "para sempre" sempre acaba.
Que minha família com suas mil diferenças, está sempre aqui quando eu preciso.
Que ainda não inventaram nada melhor do que colo de Mãe desde que o mundo é mundo.
Que vou sempre me surpreender, seja com os outros ou comigo.
Que vou cair e levantar milhões de vezes, e ainda não vou ter aprendido TUDO." 
Estamos aqui de passagem.. 

William Shakespeare

TEXTO: INTERNET  -  FOTO: UNIVERSO

quinta-feira, 20 de março de 2014

Lua Transbordante em Belo Horizonte - Para a mineirada matar a saudade da terra

Surgiu nas montanhas atrás das antenas de transmissão de rádios, tv e telefonia, na Serra do Curral em Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil

Veio até minha janela, e pediu para ser fotografada. As antenas estão defronte da lua

     Fez pose, estava iluminada, inspirada, romântica e disse-me que estava cheia de vida e paz.

Agradeceu as fotos e deu um até breve

Fotos: Universo - da janela de minha casa.

domingo, 16 de março de 2014

Recebendo o Pepê para um momento gastrô

Recebemos o amigo Paulo Roberto - PEPÊ - nosso guru para assuntos imobiliários e pesquisa sobre assuntos do desconhecido.

Almoço tranquilo de horas de papo bom, sem pressa, momentos de alegria e descontração. 


Eu - Wal e Pepê

 

 Entrada - Bruschetta de pão ciabatta, queijo minas meia cura, filé de anchova, azeitona preta, tomatino salteado com ervas e orégano. Na foto estão antes de voltar ao forno para derreter o queijo.


 Flores Capuchinha para o Purê de Peras

 

 Camarões para o Risoto de camarão e queijo gorgonzola

 
 Risoto de camarão com queijo roquefort e Purê de pera com Capuchinha e camarão grelhado e ervas de Provence.

A sobremesa - filés de manga grelhados, temperados com pitadas de curry e canela em pó, flambados no licor de laranja. Servidos com sorvete de creme.
A gula foi tanta que a foto fica para a próxima.

Fotos: Universo e "SOIZA"
Preparo do pratos: UNIVERSO
Preparo da Ciabatta: WALCIRA
A brusquetta foi adaptada de receita do Chefe Ton Vasconcelos do restaurante From The Galley na cidade de São Paulo

Flora Maria - Juliana Soares



Flora Maria

Obrigada por ter entrado literalmente em meu caminho, Flora Maria. Obrigada por ser esse anjo, essa companheira de tantos anos. Flora Cinderela. Minha pequena preta que agora é grisalha, que me seguiu meio mundo, viajou de mochila, sempre pronta para comer uma guloseima, saborear a vida e até entrar em museu. 
Temos uma longa história de vida juntas.
Minha gratidão e' infinita pela sua imensa luz e bondade.
Espero retribuir a cada dia o amor e dedicação incondicional que me dedica. Sua paciência em esperar, sua companhia nos momentos difíceis quando perdi um amor, um amigo, de uma saudade sem fim, das vezes que fiquei doente e você esteve sentadinha ao meu lado e me fez sair de momentos tão difíceis, das nossas mudanças, do m
eu repouso a espera de Matteo, da sua presença sem invadir os momentos de cuidado com ele. Você, minha fiel amiga, nunca me deixou. 
Aceitou um "pai" que te escolhi e também o dedica atenção e carinho. Recebeu o Matteo sem ciúmes e aceitou dividir espaço com ele.
Nesses 14 anos passei a contar sua idade sempre um ano a menos na esperança de ter eternamente ao meu lado.
Mas a idade chega para você também. Estamos envelhecendo juntas. Só que o tempo corre mais rápido para você. E daria tudo para poder parar esse relógio...no meu infinito egoísmo não quero ver que já não consegue correr como antes, seu cansaço...não quero admitir que você pode ir embora antes de mim.
Quero continuar te dando boa noite por muito tempo e brincar no seu ritmo. Mas, acima de tudo, quero que não sofra.
Minha lady Flora, minha amada filha de quatro patas, preciso aprender e aceitar seu tempo. Mas a vida será muito ruim sem a sua doçura e seu olhar.
Te quero com todo o amor do meu coração. E estarei ao seu lado todos os dias para tudo que for necessário para que se lembre de mim como penso em você.
Com certeza minha vida se divide antes e depois de Flora, essa flor das nossas vidas.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Chá da tarde com Florbela Espanca - Uma homenagem ao dia do poeta

No dia do poeta, presto uma homenagem a todas as amigas, amigos, leitores e seguidores do BLOG DO UNIVERSO, que apreciam a poesia. 


FLORBELA ESPANCA

Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Fanatismo

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Nunca fui como todos

Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...

Aos olhos dele

Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa;
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda a gente
Eu digo sempre, embora magoada:
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor...
E grito então ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m'encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!


Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem 

Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo...um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou?Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

Sem remédio 

Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!

Alma perdida

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...

Amiga

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha magoa e dor
O que me importa a mim? O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!

Teus olhos 

Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesouros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.
Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados!
Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas...
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...
Berço vindo do Céu à minha porta...
Ó meu leito de núpcias irreais!...
Meu sumptuoso túmulo de morta!...

Saudades

Saudades! Sim... Talvez... e porque não?... Se o nosso sonho foi tão alto e forte. Que bem pensara vê-lo até à morte. Deslumbrar-me de luz o coração! Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão! Que tudo isso, Amor, nos não importe. Se ele deixou beleza que conforte. Deve-nos ser sagrado como o pão! Quantas vezes, Amor, já te esqueci, Para mais doidamente me lembrar, Mais doidamente me lembrar de ti! E quem dera que fosse sempre assim: Quanto menos quisesse recordar. Mais a saudade andasse presa a mim!


Eu ...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Lágrimas Ocultas 

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

A Vida 

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!

Todos somos no mundo" Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...

Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!

Fotos: Internet - Poemas: Revista Bula