quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

POMPEIA: A VIDA SEXUAL NA ANTIGUIDADE - por Carolina Carmini em Obvius Magazine

Encoberta pelas cinzas vulcânicas do Vesúvio, a excitante vida (sexual) de Pompeia permaneceu preservada durante séculos. Longe dos olhares dos moralistas e dos conservadores, mantiveram-se obras e objetos que demonstram como o povo romano se relacionava com sua sexualidade. Estes achados fizeram com que durante muitos anos fez com os romanos fossem vistos como devassos. Mas a verdade é que eles compreendiam o sexo como algo natural e divino.

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Pã e Hemafrodita, c.54-68 CE, Afresco presente na Casa de Dioscuri - Pompéia.

Em 24 de agosto de 79 d.C., a cidade de Pompéia foi varrida do mapa pela erupção do vulcão Vesúvio. A tragédia, que matou milhares de pessoas e enterrou a cidade em seis metros de cinza, também preservou - como uma cápsula do tempo - imagens intactas do império Romano. Os estudos sobre a história romana tendiam a encarar a sexualidade através de segundo uma visão tradicional e conservadora. Durante anos, algumas peças com imagens explícitas eram destruídas durante as escavações. Outras, preservadas por seus valores artísticos, foram escondidas a sete chaves nos acervos dos museus.

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Afresco de uma relação sexual entre dois homens e uma mulher, encontrada em termas em Pompeia.

03_Homem_removendo_o_veu_que_esconde_o_sexo_de_uma_mulher_com_seios_enfaixados_1_st_C_Pompeia_03.jpg Homem removendo o véu que esconde o sexo de uma mulher com seios enfaixados, 1 st C - Pompéia.

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Friso com desenho erótico, s.d - Roma.

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Detalhe de skyphos com um grupo erótico, 1st CE - Roma.

"(...) vejo pessoas que iam e vinham furtivamente por entre portas com placas e meretrizes nuas. Um pouco tarde, e mesmo um pouco demais, compreendi que ela me havia levado a um bordel." Satyricon - Petrônio (? - 66d.C | Roma).

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Amantes na Cama, 1st C - Pompéia - Villa of the Centenary.

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Amantes na Cama, 1st C - Pompéia, Villa dei Vettii.

Muitas das imagens, hoje nos museus, anteriormente estavam presentes nas ruas e nas casas das pessoas nas mais diferentes classes sociais de Pompeia. Ao contrário do que os primeiros estudiosos pensavam, os romanos não eram faziam mais sexo do que as pessoas fazem na atualidade. A diferença estava no valor que o sexo possuía em suas vidas.

A arte erótica presente em Pompeia muitas vezes obrigou historiadores a reverem seus conceitos sobre a presença feminina. A mulher nua não era apenas retratada como uma divindade mitológica, mas também como um indivíduo praticante de sexo livremente. Há também teorias que afirmam que as relações sexuais eram desprovidas de afetividade, sendo muitas vezes comercias - com profissionais tanto do sexo feminino quanto masculino - ou com os próprios escravos. Homens e mulheres faziam uso de todos esses serviços.

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Ato sexual, Afresco na Casa do Amor Punido, 1St CE- Pompéia.

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Cena de ato sexual presente em pequeno quarto na Villa dei Vettii.

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Um casal no fundo de um espelho de bronze (ca. 70-90 AD).

"Falam de ti os fofoqueiros, Quíone, que não tens fodido nunca, e não há boceta mais casta do que a tua. Só que, quando tomas banho, não cobres a parte do corpo que deverias cobrir. Se tens pudor, põe a calcinha no rosto." Marcial (40 d.C a 104 d. C. poeta epigramático).

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Bacante tocada por um Sátiro, Afresco na Casa de L. Caecilius Jurundus, s.d - Pompeia.

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Sátiro e Bacante encantados um pelo sexo do outro, 1st C - Pompeia.

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Oferendas votivas em Pompeia com representações de seios e pênis - Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles.

O sexo era entendido como algo mágico e divino. Tanto que o falo - assim como os seios - era símbolo de sorte e da fertilidade, e ficavam nas casas e nos furos da entrada da cidade. Príapo - o deus da fertilidade com o falo gigante - era representado ao lado de cestas de frutas e plantações. Os deuses em geral eram seres muito sexuais. A maioria das imagens traz deuses e divindades ligados à sexualidade: Vênus, Marte, Mercúrio, Eros, Príapo, sátiros e bacantes.

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 Falo em templo de Pompeia.

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 O divino falo, 1st C - Pompeia.

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 Príapo medindo seu falo, 1st C - Pompeia, Villa dei Vetti.

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 Sátiro e Ninfa, símbolos mitológicos da sexualidade em mosaico de um quarto em Pompeia.

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 Marte e Vênus.

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Cena erótica presente em banho no subúrbio de Pompeia.

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Descrição de 'Coitus a tergo' (penetração vaginal por trás), Afresco, 1st CE - Pompeia.

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 Escultura com cena erótica.

Já nos murais dos prostíbulos, as imagens serviam de estímulo e de "cardápio" dos serviços oferecidos aos clientes. Em quartos simples com uma cama de pedra e um colchão em cima, os frequentadores encontravam à frente de suas cortinas as lobas - como eram chamadas as profissionais do sexo - com roupas diminutas e oferecendo, a quem pudesse pagar seu preço, uma noite repleta dos mais diversos prazeres.

Cenas de sexo anal são encontradas apenas nos prostíbulos e termas, ao contrário do sexo oral, que era mais aceito socialmente - pela alta estima que os romanos concediam à boca. Mas isso não implicava que o sexo anal fosse praticado naturalmente.

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 Cena erótica de sexo oral.

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 Falo na entrada de bordel com inscrição 'Hic habitat felicitas' (Felicidade Aqui ao vivo ou Aqui mora a boa sorte).

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Cena em vaso com dois jovens durante sexo anal.

A homossexualidade era vista com naturalidade e exposta em diversos murais pelos prostíbulos. Relações entre homens mais velhos e jovens eram toleradas desde que os jovens não fossem romanos livres. Há testemunhos de relações sexuais entre mulheres, mesmo que ainda pouco estudadas - principalmente na literatura - que demonstram que sexo entre mulheres também era aceite.

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 Detalhe do cálice de Warren (Museu Britânico) de um jovem sendo penetrado por um homem.

"Entramos então e, levados por entre placas, avistamos um grande número de pessoas de ambos os sexos, tão animados a se divertir nos quartos, que todos, por todos os lados, me pareciam ter tomado satirião. Ao nos perceberam, tentaram nos aliciar com sua petulância de andróginos; um deles, de pau duro até a cintura, partiu para Ascilto, e, derrubando-se sobre um leito, tentou moer o trigo em cima dele." Satyricon - Petrônio (? - 66d.C, Roma).

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 Cena erótica - cerca de 50 a 79 AD.

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 Cena erótica - cerca de 50 a 79 AD.

Além dos murais, também foram encontradas diversas inscrições - grafites - nas paredes das ruas e prostíbulos. De declarações de amor, a afirmações de ciúmes, chegando à descrição de atos e preferências sexuais, ao alcance dos olhos de qualquer habitante que passasse em frente. Alguns exemplos presentes em Pompeia podem ser lidos abaixo:

"Por que, Taís, me acusas sempre de ser velho? Ninguém é velho, Taís pra uma chupada." Marcial (40 d.C a 104 d. C. poeta epigramático).

"A noite toda fiz amor com uma moça lasciva cujas habilidades sexuais nenhuma outra pode superar. Cansado, depois de mil posições, pedi-lhe que me deixasse fodê-la como a um moço. Nem bem terminava meu pedido, e ela já me concedia seus favores. Rindo e vermelho de vergonha, pedi-lhe algo mais indecente ainda. Ela, cheia de luxúria, disse que sim sem qualquer hesitação." Marcial (40 d.C a 104 d. C. poeta epigramático).

"Eu, Lidê, posso satisfazer três homens ao mesmo tempo. Um com a minha boca, outro com meu cu. Recebo o pederasta, o amante e o fantasioso. Ainda que tenhas pressa e venhas com dois amigos, não deixes de entrar."

"Festo fodeu aqui com seus camaradas" ou "Aqui fui comida" (escrito na parede de um prostíbulo).

É interessante perceber as similaridades e rupturas entre romanos antigos - ou egípcios e indianos antigos - e as sociedades atuais. Pertinente porque rompemos preconceitos em relação a outros povos e suas práticas sexuais, e percebemos "gostos" em comum. Mas também, olhar o passado nos leva a uma melancolia: o sexo hoje está muito mais ligado aos conceitos de pecado, enquanto no passado era um caminho para o divino. E no final esvaziamos o significado de algo que, ainda que muito carnal, possuía sua parcela celestial e poética.

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 Cena erótica, cerca de 1 a 50 A.D.

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Cena de amor entre Sátiro e Bacante.

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 Polymphemus e Galatea.

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Sátiro e Bacante.


Escrito por CAROLINA CARMINI e publicado na OBVIUS MAGAZINE

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SCHUBERT OFUSCADO PELO SEU MESTRE BEETHOVEN - PUBLICADO EM MÚSICA POR LARISSA PAES

Contemporâneo de Beethoven, Schubert ficou à sombra da genialidade reverberada e reverenciada pelos vianeses dos séculos XVIII/XIX e efusivamente pelo próprio Franz Schubert.



Schubert (1797 – 1828) era 27 anos mais novo que Beethoven. Morreu aos 31 anos por complicações da sífilis, um ano e alguns meses depois da morte de Beethoven. A última música que Franz ouviu foi o Quarteto em dó sustenido menor, do Ludwig Van. Evidenciando até o fim da vida a admiração quase patológica de Schubert por Beethoven. Com a modéstia que beirava a depreciação, Franz indagava: ‘’Mas o que posso fazer depois do que fez Beethoven?’’.


Diferente de Mozart, Beethoven... Schubert não interpretava suas composições, assim não era conhecido do público, já que não era virtuosíssimo no piano. Sendo miserável durante toda a vida, sobrevivendo da solidariedade de amigos que o hospedava, não tinha piano e compunha a seu modo; de cabeça, por vezes.


De todos os gêneros que englobam a música erudita, os Lieder – canção – e as músicas de câmara expressam de forma genuína toda a intensidade introspectiva das composições schubertianas. Por nutrir uma obsessão pelos poemas de forte dramaticidade de Goethe, Franz compôs as mais profundas e reflexivas lieder baseadas na poética do célebre escritor alemão, como a melancólica Gretchen am Spinnrade (‘’Margarida na roca’’). Schubert conseguia metamorfosear magistralmente os densos poemas goetheanos em potências metafísicas apenas com voz e piano, já que naquele período era mais comum transformar essas obras em óperas.

A obra camarística schubertiana é permeada de nuances que é necessário imergir livremente para adentrar verdadeiramente na sua poética musical. O Quinteto para piano em lá maior, op 114, ‘’A Truta’’, é a mais difundida e a mais complexa obra desse gênero. O Quarteto de cordas, n 14, em ré menor, ''A Morte e a Donzela'' é uma obra que mistura a obscuridade e a leveza etérea, sendo o segundo movimento a funesta beleza. Pode-se dizer veementemente que Schubert apresentava dificuldade com sinfonias, sonatas e óperas, tendo uma relação ambígua de aconchego e rejeição, mas que encontrava sua espontaneidade artística nos inúmeros lieder compostos e nas elegantes, dançantes e trágicas músicas de câmara, despejando nesses gêneros toda a sua solidão, miséria, melancolia e angustia.

Beethoven não só ofuscou a expressão schubertiana, mas todos que aparecessem, pois Ludwig Van era a devoção da época. O quase misantropo Beethoven influenciou tão violentamente Schubert que se pode considerar Franz o pupilo que Beethoven nunca teve.

Texto de Larissa Paes em OBVIUS MAGAZINE  - © obvious: http://lounge.obviousmag.org/promiscuidade_artistica/2013/07/schubert-ofuscado-pelo-seu-mestre-beethoven.html#ixzz4U9TBe43m
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