quinta-feira, 30 de junho de 2016

SENTA QUE LÁ VEM TEXTÃO. MESMO! MUITO GRANDE - FELIPE SILVA

Esse texto foi publicado pelo Felipe Silva no seu FB, e compartilhado pelo amigo Maurilo Andreas.
Não  conheço o Felipe Silva,mas seu texto que comoveu muitas pessoas que o conhecem ou não, despertou minha atenção para o fato de que a vida é de escolhas, concessões ou não. Por mais difícil que a vida seja, se as escolhas são as certas e se enfrente as dificuldades com caráter, honestidade e muita luta, os planos traçados e desejados, poderão ser alcançados.

O Felipe dá uma aula de que  com toda as dificuldades que a vida pode apresentar, é possível lutar e conseguir realizar seus sonhos.

Destaque para a mãe que foi a luta junto com ele, dando exemplo, mostrando os caminhos a seguir e que deu as condições para que Felipe pudesse se realizar como ser.

Congratulo-me  com Felipe e desejo que seu filho Murilo, cresça e siga os passos do pai.

O Brasil precisa de muitos "Felipes" para ser um dia um país inteiro e justo.


Felipe Silva
Texto do Felipe Silva

Hoje nasce meu filho.
Mas antes de vocês conhecerem o Murilo. Precisam me conhecer.
Então vou contar um pedacinho da minha história adulta. Só um pedacinho pra não tomar muito seu tempo.

Ano: 2001.
Chuva de balas do auge da guerra CV x ADA.
Eu, 17 para 18 anos. Preto, favelado, pobre. Raivoso feito um cão magro de rua. Teimoso, teimoso e teimoso.

Segundo grau completo em escola pública com um ano de antecedência, mas claro, nunca passaria num vestibular pra faculdade pública.
Sem dinheiro, sem emprego.

Duas saídas: escolha fácil, o tráfico de drogas! Direto, rápido, poder batendo na porta. Dinheiro sobrando pra esbanjar. Tava ali, era só querer.

Ou escolha difícil: projeto social do Governo do Estado para jovens de comunidades carentes. Ser Aux. de Serviços Gerais. Literalmente: faxineiro de órgão público.

Escolha difícil: virei faxineiro do hospital da Polícia Militar.

Enfermaria A. Varria, limpava e lavava todo o corredor, banheiros e todos os apts. No refeitório, só era permitido almoçar por último. Não iam misturar os faxineiros com os enfermeiros, médicos e policiais, né? Sabe o que acontecia? Nunca sobrava carnes. A gente tinha que comer ovo, todos os dias. Ovo frito.

Quer ouvir uma coisa triste? Eu achava que estava bom. Que era suficiente. Era o que eu merecia. Tinha um salário. Consegui comprar um tênis legal. Ajudava minha mãe nas contas de casa. Estava ótimo.

Aí… a polícia invadiu minha casa.

Seja inocente, trabalhador, honesto. Foda-se.
A regra quem faz não é você. Sua mãe no chão, seu sobrinho no chão, tiro de fuzil na sua porta.

De novo, escolha fácil: tráfico, vingança, chapa quente, guerra contras aqueles filhos da puta.
Escolha difícil: consguir um trabalho, ganhar mais e sair do morro.

Claro, escolha difícil: fui juntar dinheiro pra entrar na faculdade. Mãe foi fazer mais e mais plantões pra ajudar a pagar.

Comprei um guia do estudante, li tudo. Teimoso, quis fazer Publicidade.
Me disseram: pobre publicitário? Hahahaha…
Quis ser redator. Me dei conta: aos 22, só tinha lido 3 livros em toda a vida. Hahahahah.

6 meses de faculdade. Não consigo mais pagar.

Escolha fácil: desiste moleque.
Escolhe difícil: desiste moleque.

Ok, sem escolhas.
Mas não dizem que sempre tem escolha?
Dizem… hahahahahahah…
Sou teimoso, se é o que eles querem eu não faço.

Bora ser preto, suspeito na rua, dura da polícia toda semana, segurança de loja mandando abrir a mochila, porta de banco travando.
Mas vão se fuder que vou vencer honesto.

Meritocracia é a puta que pariu.
Oportunidade pra todos é a puta que pariu.
Não existe, chapa, tudo utopia.
Mas pobre não tem nada a perder. “Se você não saída, vença!” Foi o que eu fiz.

Fim do primeiro ato.

2016.
Eu, 33 anos. Preto, casa de dois andares, carro. Viagem pra NY. Redator da ÁFRICA, uma das maiores agências de publicidade do mundo. Leão em Cannes. Em print. Categoria foda. Mais de 200 livros lidos. Tatuaram uma frase minha na pele. Projeto humano com mais de 1500 kitis mensais para moradores de rua. Construi uma casa pra minha mãe.

E hoje, vejo nas timelines que só se entra no crime porque quer.
Que a oportunidade está aí. Que é só querer.
Que é só se esforçar. Que meritocracia funciona.
Que bolsa família faz o pobre não trabalhar.
Que ajuda do governo deixa pobre mal acostumado.
Que a polícia tem que invadir a favela e dar tiro.

Com toda serenidade e conhecimento que aprendi ao longo desse tempo, lhes digo: vão tomar no meio dos seus cu!

EU SOU O CARA DA FAXINA, rapaz.

Esse aí que tirou seu lixo hoje.
E esse país só vai melhorar quando você achar certo que que eu divida a mesa do trabalho com você. Que eu frequente o mesmo shopping, faça a mesma viagem, tenha o mesmo carro que você, vá a mesma faculdade que seu filho.

Quando você me der bom dia de verdade e não automático. E agradecer que eu limpei seu café derramado no chão. E ver que eu tenho nome.
Que eu sou gente.
Que eu tenho sonhos.
Que eu fiz escolhas difíceis pra caralho pra ser um faxineiro.
Que eu não quero comer ovo, porra.
Que eu não quero ser parado na rua porque sou preto.
Ser olhado feio porque sou pobre.

Antes de falar de preto, de pobre de favelado. Saibam: todos esses sou eu.
E te digo: viver no morro é uma merda. Ser pobre é uma bosta.

Porque escrevi tudo isso?
Porque hoje nasce o meu filho.

E, afinal, não era justo vocês conhecerem meu filho, se a maioria nem conhece direito o Felipe.

Mas hoje vocês vão poder saber porque eu vou olhar nos olhos dele com a certeza de que não arredei o pé da honestidade.
Não fiz concessões. Não dei um passo atrás. Não falsifiquei 1 porra de carteirinha de estudante sequer.

E fiz tudo isso só pra ele saber que é possível.
Só pra poder contar pra ele que é foda pra caralho, mas é possível.

Pensamentos de vó. - Denise Almeida e Iasmin Silva.





Foto: UNIVERSO - CHILE - 2016


"Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de Porto, dizer a minha neta:
- Querida, venha cá.
Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado.
Tenho umas coisas pra te contar.
E assim, dizer apontando o indicador para o alto: - O nome disso não é conselho, isso se chama colaboração!
Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões.
E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e forte.
Por isso, vou colocar mais ou menos assim:
É preciso coragem para ser feliz. Seja valente.
Siga sempre seu coração.
Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão.
Satisfaça seus desejos.
Esse é seu direito e obrigação.
Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim.
Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, a Barcelona e a Austrália.
Cuide bem dos seus dentes.
Experimente, mude, corte os cabelos. Ame. Ame pra valer, mesmo que ele seja o carteiro.
Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito...”
"Vai que o carteiro ganha na loteria - tudo é possível, e o futuro é imprevisível.
Tenha uma vida rica de vida! Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela.
Mas tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável.
Porque sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor.
Não faça por segurança, carinho ou status.
A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco!
Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém diferente de você.
Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão.
É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação.
Leia, pinte, desenhe, escreva. E por favor, dance, dance, dance até o fim, se não por você, o faça por mim.
Compreenda seus pais.
Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre farão.
Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.
Era só isso minha querida.
Agora é a sua vez.
Por favor, encha mais uma vez minha taça e me conte: como vai você?
Isso vale para todos nós, pais, filhos, netos e amigos..."
Dica: Rosemary Campagnuci, uma fraternal amiga de Juiz de Fora

Declaração de Amor - Manoel Bandeira

Na década de 50, eu ia e voltava todos os dias,  nesse bonde para a escola Jardim de Infância Mariano Procópio, em Juiz de Fora. Viagem segura e gratuita.

Talvez, Juiz de Fora, seja a única cidade no mundo que tenha usado os bondes para transporte escolar.

Na época da Ditadura no Brasil, a escola foi demolida e construíram no seu lugar um pesado monumento homenageando os militares.

Mais uma prova de como a educação no Brasil decaiu sob vários aspectos.




Fotos: Mauricioresgatandoopassado.blogspot.com.br

Juiz de Fora! Juiz de Fora!
Guardo entre as minhas recordações
Mais amoráveis, mais repousantes
Tuas manhãs!

Um fundo de chácara na Rua Direita
Coberto de trapuerabas ...
Uma velha jabuticabeira cansa de 
doçura.
Tuas três horas da tarde ...
Tuas noites de cineminha
namoriqueiro ...
Teu lindo parque senhorial mais
Segundo Reinado do que a 
própria Quinta da Boa Vista ...
Teus bondes sem pressa dando voltas
vadias ...

Juiz de Fora! Juiz de Fora!
Tu tão de dentro deste Brasil!
Tão docemente provinciana ...

Primeiro sorriso de Minas Gerais