altar de longas viagens d´além mar,
contemplo absorto pela tela do computador
minha iconográfica presença.
Tudo está como deixei...
A cor , é verdade, já não é a mesma,
as flores não mais aquelas.
Pelo espelho posso ver também
que mudou o espírito do lugar.
A andorinha, a santa
que elegi para, pelo imaginário, me guiar,
e que no pedestal maior a coloquei,
transformou-se numa piccola rondine,
que, gorgeia, ainda travessa, por mares e montanhas,
a busca da liberdade e da auto-estima.
Se volta?... Na floração deve voltar,
mas está ocupado o beiral em que dormia
e onde, vez ou outra, tomava-se uma chávena de chá.
O espaço já não a pertence.
dividido que está entre viajantes.
É preciso disputá-lo com cada um a todo instante.
Posicionando-se entre os pares mais comuns,
fazendo o gênero da farsa, ainda arrogante,
fortemente bate as asas para se acomodar.
Perdida? Não sei.
Mas, destituída da sua santidade por certo está.
Já não tem segredos sua intimidade:
desnuda os ombros, abre os braços e as pernas,
legando-os à vulgaridade.
Em alegre bando, voa alto pelos ares .
Parece ter encontrado um sentido ou a felicidade
ao expandir a sala de jantar para vulgos e comensais.
Mas, ao fugir da tarde, à busca da luz na escuridão,
dispersa-se sem direção,
e tem de pousar num beiral qualquer,
pois, nos mesmos portais,
postos sonhados de eternidade,
nossa rondine já não pousam mais.