segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A alma - Adélia Prado

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A alma .

Todos vamos envelhecer… Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar. A imagem no espelho irá s...e alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos. A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos. O segredo não é reformar por fora. É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior. E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar. Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história. Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos. Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios. Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo. Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores. Aprenda: bisturi algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio.


Texto de Adélia Prado.

Dica da Rosemary Campagnuci, de Juiz de Fora - Capital do Grande Rio e adjacências - Via Facebook

Carta a Gustavo Teixeira - Pedro Luis de Aguiar

Poesia do amigo Pedro Luis de Aguiar que conquistou  honroso segundo lugar no concurso de poesias criadas, como parte das comemorações da Semana Gustavo Teixeira.


  


Gustavo de Paula Teixeira (São Pedro, 4 de Março de 1881 — São Pedro, 22 de Setembro de 1937) foi um poeta brasileiro, de tendências literárias entre o Parnasianismo e Simbolismo, peculiares as primeiras décadas do Século XX.




PEDRO LUÍS DE AGUIAR


Carta a Gustavo Teixeira

Caro Gustavo, inda que não me conheça, tomei a liberdade
 de a você escrever, para satisfazer uma grande curiosidade,
 que hoje, mais do que nunca, me deixa bastante intrigado.

Como você, em época tão distante, quase uma eternidade,
 uma obra tão densa e profunda, de gerar teve capacidade?
 Você deixa, na arte da poesia, um admirador extasiado.

Como se inspirar? Pesquisar? A muitos temas dar propriedade?
 Ritmos, métricas, rimas, sonoridade, tonicidade, musicalidade?
 Lugares e pessoas, flores e amores, um vocabulário rebuscado?

A luz que o inspirou, só pode ter vindo do amor, celestialidade.
 Para na terra se materializar, em forma de poesia, em verdade.
 Do Velho ao Novo testamento, do fato presente ao passado.

Ah! Mulheres, rosas, casa paterna. Sentimentos de saudade.
 A embalar corações, a estimular mentes. Poesia e realidade.
 Versos e emoções. Frases e razões. Um inestimável legado.

Causa espanto e admiração, a sua grande versatilidade
 Entre o Parnasianismo e o Simbolismo, transitou com facilidade
 No primeiro, da mitologia grega, do Apolo consagrado.

E, no segundo, na “arte pela arte”, fatos históricos com criatividade.
 Fiel à forma, às rimas raras, à preciosidade.
 Rítmico e vocabular, cada verso estruturado.

Eu me surpreendo, como se filmado fosse, o visual de veracidade
 da enigmática Cleópatra, descrita com incomum autoridade.
 “E a Náiade do Egito, ao ver a frota ingente de Marco Antônio, ri, levando unicamente contra as lanças de Roma a graça de um sorriso.”

Objetos e paisagens, detalhados com rara capacidade.
 Flui a narrativa, em meio à emoção, do forte apelo à saudade.
 Como em Casa Paterna: “Da velha casa em que a manhã da vida passei, conservo uma lembrança exata: Antes de eu vir ao mundo foi erguida perto da serra, quase ao pé da mata”.
 E a perfeita descrição se encerra em tom emocionado...
 “O ribeirão, o cafezal, a horta...Ah! Que saudade o coração me corta do lar querido que deixei chorando!”

Ah, você foi um ícone do Simbolismo, valorizou a subjetividade,
 o seu eu, o particular e o individual, sem a visão com generalidade.
 e do Romantismo também se enamorou, um romance privilegiado.

Aos seus versos trouxe o imaginário, a fantasia, musicalidade.
 Sem lógica ou sem razão, com intuição interpretou a realidade,
 Se necessário foi vago, indefinido, impreciso... um verso inacabado.

Uma obra genuína, marcante, sempre plena de atualidade,
 que, a despeito do momento, a tudo tratou com fidelidade.
 Fatos e imagens, no presente e no passado.

Conta a história, a sua retraída e tímida personalidade.
 Em São Paulo não se adaptou à já vibrante realidade.
 Na volta a São Pedro, mantém-se aconchegado.

Conta a história, a sua reconhecida humildade.
 Em tudo e com todos, evidenciava a simplicidade
 Própria dos soberanos, do espírito elevado.

A sua história, também contava meu pai, com grande saudade.
 E que seus manuscritos organizou, há quase uma eternidade,
 E que por você, no caminho das letras foi influenciado.

Ah, doces lembranças de meu pai, emocionante saudade.
 Bem que eu tento, de vocês dois, ter a mínima capacidade
 de escrever algumas linhas, mas não me faço de rogado.

 Reconheço a dupla sabedoria, aprecio a dupla humildade,
 e ouso, nas rimas pobres, pobres versos, mostrar autenticidade.
 Feliz aquele que desfrutou mínima parte de seu legado.
 A você, Gustavo, e pela sua eterna obra, o meu muito obrigado

Fotos: Gustavo Teixeira - Pedro Luis de Aguiar - Texto e poema: Facebook e Internet