sábado, 30 de janeiro de 2016

Esperem sentados - Rita Marrafa de Carvalho.

Super mãe - Ziraldo
Que cases. Que te juntes numa cerimonia branca e imaculada, rodeada de família e amigos. Que tenhas filhos depois. Só depois. Esperam de ti, mulher, que saibas, no mínimo, estrelar ovos e que gostes de homens. Mas que sejas fiel. Ordeira e arrumada. Limpa e asseada. E que dês de mamar. Que sejas incansável na função de mãe, sem lágrimas ou dúvidas. Mãe que é mãe nunca se arrepende de nada. Nem de os ter. Nem do que faz. Nunca questiona os conselhos dos mais velhos.
Esperam de ti isso e mais. Que qualquer sensação de fraqueza é para erradicar do peito e da cabeça. Esperam que se te dizem que deves dar peito até aos dois anos, é para cumprir. Que se não sentes qualquer gozo nisso, és menos mãe. Menos capaz. Menos mulher. Esperam de ti um parto normal. Gaja que é gaja, tem parto vaginal. As outras são umas “meninas”. Esperam de ti a boçalidade da pré-história.
Esperam que tenhas os filhos sempre limpos e que lhes dês banho todos os dias após uma refeição sem fritos ou salsichas. Esperam que a roupa do homem com quem casas, porque é suposto gostares de homens, esteja passada a ferro. Que se não podes, contrata alguém.
Esperam que não haja vincos na tua camisola quando vais trabalhar todos os dias nem nódoas de ranho ou papa. Esperam que tires um curso. Que sejas “alguma coisa” mas que consigas ter a casa num brinco, sem pingo de pó ou brinquedos fora do sítio.
Esperam que sejas magra. Atlética. Que corras todos os dias. Ou dia sim, dia não, vá. De depilação feita e unhas coloridas. Que faças bolos ao sábado. E que não tenhas as raízes do cabelo por fazer. Esperam que te comportes bem e que nunca bebas um copo a mais para não caíres em figuras ridículas. Que nunca sejas daquelas que urina entre dois carros, no meio do Cais do Sodré.
Esperam isso. Esperam mais. Que nunca adormeças maquilhada porque sujas a fronha da almofada. E que não te separes. Aguenta. É suposto aguentares porque tudo dá trabalho na vida. Por isso, é suposto esforçares-te. Pelos filhos. Por ti, não. Não carece. Por ti, não. E pela imagem. A imagem. E o que gastaram naquele casamento sumptuoso! Não. Aguenta, se faz favor. Pelos teus pais e pelos teus filhos. Esmera-te. É capaz de ser culpa tua.
Esperam isso de ti. E não convém falhares. Esperam que tenhas sempre a louça na máquina e a roupa estendida. Que a cama esteja sempre feita. Todos os dias. Esperam de ti pouco rasgo. Se pensares demasiado, vais questionar demasiado. Ser curiosa ainda vá. Refletir é evitável. Não esperam que sejas uma grande intelectual ou que fumes charutos ou que gostes de brandy. Vais beber licor de café ou vinho do porto e fumar qualquer coisa com sabor a mentol. Esperam de ti a dignidade. Que aceites o assédio como um galanteio. Esperam que uses saltos altos todos os dias e que uses um perfume que enche o elevador. Esperam que sejas isto. E mais. Só não esperam que sejas feliz.
Dica: Aurea Maranduba, prima querida de Juiz de Fora - Via FB

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Aurélie & Verioca - Pas à pas

10 poemas de Mia Couto

1 – O Amor, Meu Amor

Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.
Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.
E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.
E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.
Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.
Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.
E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
No livro “Idades cidades divindades”

2 – Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
No livro “Raiz de Orvalho e Outros Poemas”

3 – Destino

à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos
vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso
conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso
agora
que mais
me poderei vencer?
No livro “Raiz de Orvalho e Outros Poemas”

4 – Espiral

No oculto do ventre,
o feto se explica como o Homem:
em si mesmo enrolado
para caber no que ainda vai ser.
Corpo ansiando ser barco,
água sonhando dormir,
colo em si mesmo encontrado.
Na espiral do feto,
o novelo do afecto
ensaia o seu primeiro infinito.
No livro “Tradutor de Chuvas”

5 – Saudade

Que saudade
tenho de nascer.
Nostalgia
de esperar por um nome
como quem volta
à casa que nunca ninguém habitou.
Não precisas da vida, poeta.
Assim falava a avó.
Deus vive por nós, sentenciava.
E regressava às orações.
A casa voltava
ao ventre do silêncio
e dava vontade de nascer.
Que saudade
tenho de Deus.
No livro “Tradutor de Chuvas”

6 – Mudança de Idade

Para explicar
os excessos do meu irmão
a minha mãe dizia:
está na mudança de idade.
Na altura,
eu não tinha idade nenhuma
e o tempo era todo meu.
Despontavam borbulhas
no rosto do meu irmão,
eu morria de inveja
enquanto me perguntava:
em que idade a idade muda?
Que vida,
escondida de mim, vivia ele?
Em que adiantada estação
o tempo lhe vinha comer à mão?
Na espera de recompensa,
eu à lua pedia uma outra idade.
Respondiam-me batuques
mas vinham de longe,
de onde já não chega o luar.
Antes de dormirmos
a mãe vinha esticar os lençóis
que era um modo
de beijar o nosso sono.
Meu anjo, não durmas triste, pedia.
E eu não sabia
se era comigo que ela falava.
A tristeza, dizia,
é uma doença envergonhada.
Não aprendas a gostar dessa doença.
As suas palavras
soavam mais longe
que os tambores nocturnos.
O que invejas, falava a mãe, não é a idade.
É a vida
para além do sonho.
Idades mudaram-me,
calaram-se tambores,
na lua se anichou a materna voz.
E eu já nada reclamo.
Agora sei:
apenas o amor nos rouba o tempo.
E ainda hoje
estico os lençóis
antes de adormecer.
No livro “Tradutor de chuvas”

7 – Idade 

Mente o tempo:
a idade que tenho
só se mede por infinitos.
Pois eu não vivo por extenso.
Apenas fui a Vida
em relampejo do incenso.
Quando me acendi
foi nas abreviaturas do imenso.
Mia Couto
No livro “Vagas e lumes”

8 – Companheiros

quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros

9 – Promessa de uma noite

cruzo as mãos
sobre as montanhas
um rio esvai-se
ao fogo do gesto
que inflamo
a lua eleva-se
na tua fronte
enquanto tacteias a pedra
até ser flor
No livro  “Raiz de orvalho e outros poema”

10 – O Espelho

Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.
A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.
No livro “Idades Cidades Divindades”
Mia Couto oficial

Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

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Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Um dia isto tinha que acontecer - Mia Couto


Um dia isto tinha que acontecer - Mia Couto




 
Um dia isto tinha que acontecer Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor. Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou. Foi então que os pais ficaram à rasca. Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado. Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais. São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração. São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas. Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados. Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere. Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam. Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras. Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável. Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada. Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio. Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração? Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos! Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós). Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida. E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca. Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens. Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles. Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

( Mia Couto)

domingo, 24 de janeiro de 2016

Ladies and gentlemen, Sir Paul Mc Cartney - Apresentação na Casa Branca e no Kennedy Center Honors - Vídeos completos



0:00 - Intro
1:27 - Interview with Paul McCartney
5:16 - Paul McCartney - Got to Get You Into My Life
8:13 - Stevie Wonder - We Can Work It Out
12:27 - Jonas Brothers - Drive My Car
15:09 - Jerry Seinfeld's comedy routine
20:22 - Jack White - Mother Nature's Son
23:23 - Faith Hill - The Long and Winding Road
27:13 - Corinne Bailey Rae & Herbie Hancock - Blackbird
31:08 - Elvis Costello - Penny Lane
35:35 - Emmylou Harris - For No One
39:14 - Lang Lang - Celebration
42:39 - Dave Grohl - Band on the Run
48:39 - Paul McCartney & Stevie Wonder - Ebony and Ivory
53:54 - President Obama's dedication speech
1:00:22 - Paul McCartney's acceptance speech
1:02:30 - Paul McCartney - Michelle
1:05:36 - Paul McCartney - Eleanor Rigby
1:08:26 - Paul McCartney - Let It Be
1:12:43 - Paul McCartney - Hey Jude
1:20:04 - Paul McCartney - Yesterday




7:50 - Hello Goodbye / Penny Lane (No Doubt)
10:22 - Maybe I'm Amazed (Dave Grohl & Norah Jones)
12:56 - She Came In Through The Bathroom Window / Golden Slumbers / Carry That Weight / The End (Steven Tyler)
17:02 - Let It Be / Hey Jude (James Taylor & Mavis Staples)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Asssista Caio Stol com sua arte sonhando o pôster da Cervejaria Dogma - Arte da mais alta beleza

Genialidade e arte !




Publicado em 21 de jan de 2016 no YouTube

Depois de alguns meses de trabalho e alguns dias de edição, está pronto o making of em vídeo do trabalho de ilustração e lettering mais longo e complexo da minha carreira. Este foi um trabalho encomendado pela Cervejaria Dogma de São Paulo, empreendimento de três grandes mestres cervejeiros da capital. O pôster sintetiza uma releitura de todas as ilustrações de cada rótulo da Dogma, ao mesmo tempo que é uma fusão estética e catártica, de referências barrocas e victorianas, em prol de refletir o espírito e o conceito da marca.
Este não é um vídeo de intuito comercial, tampouco um clipe publicitário, portanto, não está restrito a ser um material audiovisual com pretensões de velocidade de visualização e feedback imediato. Se trata de um making of bastante detalhado de todo o processo, para qualquer pessoa que admire a arte e seus processos manuais.
Fica o meu agradecimento formal aqui, ao querido e hoje amigo, Vinícius Sales, que prospectou esse trabalho para mim, aos mestres cervejeiros da Dogma, Luciano Silva, Bruno Moreno de Brito e Leonardo Satt, que confiaram a mim, não somente o trabalho desse pôster, mas de todas as ilustrações que estampam a atual coleção e reformulação dos rótulos da Dogma. Agradeço também a Lygia Pires, por todo o apoio moral e emocional durante todo esse árduo e longo processo de execução deste trabalho, que demandou não somente esforços manuais, mas também tamanha resiliência emocional.
Por fim, eis aí o making of. (Não é recomendável assistir no celular, visto que vc não verá de fato os detalhes da execução. Recomendo assistir num monitor, setado em 1080p nas configurações do youtube, com bons fones de ouvido ou autocolantes)

Caio Stol

Dica: Do amigo Geison Esteves - Diretor da Promotreze, Logotreze e Studio Getreze




Para os filhos, aguardem seus pais...

FOTO: INTERNET

"Quando eu estiver velhinha, vou morar um pouco com cada filho, 
e dar a eles tantas alegrias... Do jeito que eles me deram.
Quero retribuir tudo o que desfrutei deles fazendo as mesmas coisas.
Oh, eles vão adorar!
Escreverei nas paredes com lápis de cores diversas,
pularei nos sofás de sapatos e tudo. Beberei das garrafas
e as deixarei vazias e fora da geladeira, entupirei de papel
os vasos sanitários; como eles ficarão bravos com isso!
(Quando eu estiver velhinha e for morar com meus filhos)...
Quando eles estiverem ao telefone e não puderem me alcançar,
vou aproveitar para brincar com o açúcar ou com a água sanitária.
Eles vão balançar suas cabeças e correr atrás
de mim.Mas, eu estarei escondida debaixo da cama.
Quando me chamarem para o jantar que eles prepararam,
não vou comer as verduras, as saladas ou a carne,
vou engasgar com o quiabo e derramar leite na mesa,
e quando se zangarem, corro ― se for capaz!
Sentarei bem perto da TV e vou mudar de canal o tempo todo.
Tirarei as meias pela sala e perderei sempre um pé;
e vou brincar na lama até o final do dia.
E mais tarde, à noite, já deitada, vou agradecer a Deus por tudo,
fechar meus olhinhos para dormir, e meus filhos vão olhar para mim com um meio sorriso e vão dizer:
― Ela é tão doce quando está dormindo!"


Dica: Via Facebook de Brazônia Figueiredo e do amigo Dilson Marques

MPQ - Música Popular de Qualidade - Tom Jobim e Andy Williams - Garota de Ipanema

QUANDO O ESSENCIAL É MAIS.




Dica: Ton Vasconcelos - Via Facebook
Vídeo: YouTube

David Garret - Suite Nr. 3 von Johann Sebastian Bach e Adágio de Tomaso Albinoni



Dica do vídeo acima: Sandra Cintra - Via Facebook 
Encontro de David Garret com Holiday On Nice




Vídeos: YouTube

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O OUTRO LADO DA MENOPAUSA - Hilda Lucas in www.mdemulher.abril.com.br

Foto: Internet - Desconheço o autor, quem souber o nome do autor favor informar para os devidos créditos
É mais ou menos assim: um dia você acorda quadrada, ou talvez, ballonnée, ou pior, com jeito de matrona!
A menopausa não é colega – ouvi de uma mulher numa sala de espera de dermatologista. Estávamos as duas com os rostos inchados e chamuscados por lasers e peelings, folheando perversas revistas de moda e frivolidades, onde todos são jovens e felizes, depositando míseras gotículas de esperança nos raios que nos partem daqueles aparelhos de última geração. Balancei a cabeça como uma vaca no matadouro e, sem pestanejar, movida pela absoluta cumplicidade daquele instante, falei para a minha colega: A menopausa é uma filha da mãe, isso sim! Caímos na maior gargalhada e assim ela se tornou a minha primeira amiga de menopausa.
A menopausa é um seqüestro. Uma versão, só para mulheres, de praga bíblica. Inferno astral que antecede a terceira idade. É tragicômica, portanto, para encarar, só rindo. Um dia você está no meio da sua normalidade, é arrancada de tudo que você tem como referência física de si mesma e é lançada a uma espécie de funilaria às avessas. A libido diminui na mesma proporção em que aumenta a irritabilidade.
Você não só não pensa tanto, nem gosta tanto, nem se importa tanto mais com sexo, como para compensar vira uma criatura instável, pavio curto, sem paciência para nada, capaz de discutir com um poste, de deprimir à toa, ter crise de choro com anúncio de seguradora e ataque de ansiedade ao ler o jornal. Enfim, você vira uma pessoa bem complicada, ou melhor, complexa. E, até então, você achava que TPM era o pior que podia acontecer.
Os sintomas aparecem inadvertidamente, como assaltantes, em maior ou menor intensidade, bizarros e infalíveis. Lá estão eles: ressecamento – escolha onde você terá; celulite – a pele de pêssego é substituída pela casca de laranja; flacidez – é a triste irrevogabilidade da lei da gravidade; manchas senis – essas pelo menos trazem o consolo dos muitos verões bem vividos; insônia – e com ela balanços complicados da vida; calores – esses são um requinte de crueldade, tão desprovidos de sentido que nos fazem refletir sobre a transcendência da agonia dos ovos cozidos; esquecimentos – sua memória vira uma espécie de vácuo e você passa por constrangimentos inenarráveis como aquela frase típica: “sabe aquele filme, daquele diretor, com aquela atriz, como é mesmo o nome?”; ossos de papel – e o perigo de tombos ridículos resultarem em cirurgias espetaculares onde pinos e próteses são implantados sem cerimônia; cabelos ralinhos de palha de milho – a sua trança de potranca virou um tererê; cintura - convexa ou quase inexistente com direito àqueles dois afundadinhos nas costas, como se você fosse feita de massinha de modelar; olhar – embaçado por uma nata azulada (catarata, não!!!) toldado por pálpebras fofas, generosas – e você começa a achar que tem ascendência mongol; juntas sacanas – com data de validade vencida e, como se não bastasse, a lembrança recente, acachapante, perturbadora e descompassada de como você era antes da menopausa. Você era jovem ontem! Que dó, que desperdício!
Esse é o ponto crucial: o estranhamento entre o que vemos e a nossa imagem interna. Não se trata da negação da velhice, da morte. Não. É bem mais simples e raso: você simplesmente não gosta do que vê! Trata-se de uma incapacidade temporária para sobrepor imagens, aceitar limitações, apurar um outro olhar.
Você ainda não tem parâmetros para entender em que você está se transformando. Você resiste bravamente. Convoca uma legião de especialistas, as forças do Bem, o exército da salvação. Faz reposição hormonal, contrata um personal, dá uma passadinha na sex shop, engole quilos de soja, linhaça e sucos de cranberry, toma antidepressivo, Ômega 3, aplica botox, faz drenagem linfática, vai ao plástico, ao dermatologista, ao ortomolecular, à nutricionista, ao psicanalista, ao astrólogo, à fisioterapeuta e ouve o seu ginecologista como se ele fosse o oráculo de Delfos. Seus modelos e referências estão no passado e a menopausa – trombeta apocalíptica – anuncia um futuro onde você vai ter de mostrar que aprendeu lições, mereceu cada ruga e está pronta para mais trinta anos.
A menopausa é uma puberdade invertida. E, como tal, é também casulo, travessia, transformação. Divisor de águas, experiência de deserto, freio de arrumação, faxina. Teste crucial de espírito esportivo, capacidade de adaptação e instinto de sobrevivência.
Passa. Demora, mas passa, e você sobrevive, como sobreviveu à pororoca hormonal da adolescência; você há de superar o declínio daqueles mesmos hormônios e seus asseclas que um dia já te enlouqueceram. (Esqueceu que você sobreviveu, com muito menos recursos, às cólicas, às espinhas, aos pelos encravados, aos ovários policísticos, à vergonha do próprio corpo, à oscilação de humor e à melancolia dos anos tenebrosos da adolescência?)
E aí, passada a tempestade, vem a bonança, a libertação. Você estará livre de ter que ser bonita, magra, eficiente, querida, desejável, vencedora, fértil, competitiva, invejada, elegante, gostosa, informada, culta, legal, conectada, tudo ao mesmo tempo. Ufa!!!
Depois dos achaques, perrengues e mudanças, a menopausa inaugura a maturidade: a síntese da mulher que você construiu ao longo dos anos, fases e etapas, a essência que fica, depois que os papéis de jovem fêmea produtiva estão cumpridos. Seu rosto é a cara da sua vida. Sua bagagem é tão grande que dá para jogar fora um monte de supérfluos e pesos mortos. Seu tempo é só seu e você não precisa provar mais nada para ninguém. Seu maior desafio é ter-se tornado uma boa companhia para si mesma. Você reformula premissas, um estar no mundo mais relaxado, uma maior complacência com suas imperfeições, dificuldade e vícios. Você já não quer mudar o mundo, você quer compreendê-lo; você já não precisa agradar às pessoas, você quer viver em paz e ser respeitada. Não há mais pressa; a vida vira um bom vinho a ser apreciado, com generosidade e prazer.
A menopausa é um tremendo rito de passagem. Talvez o último antes da definitiva passagem. Inevitável e necessário. Coisa de gente grande. O relógio biológico é inclemente, imparcial e, portanto, justo. Haja coragem e bom humor! Não há negociação possível, apenas a vida seguindo seu curso.
Então, que venham os ciclos, todos. Com seus sustos, sombras e transformações. Com suas libertações, rearranjos e alegrias. Que venham os dias, as horas, as marés, as auroras, todas.

MPB - Música Popular de Qualidade - João e Maria - Yamandu e Dominguinhos (Sivuca e CB)





Cartun e vídeo: Facebook e YouTube

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Antes de julgar a minhha vida ou meu caráter... - Clarice Lispector


"Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter... calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só ai poderás julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida."
Clarice Lispector

domingo, 17 de janeiro de 2016

Fica permitido o bem, o bom, o belo e revogam-se as coisas contrárias - Alem do Tempo (Elizabeth Jihn) e texto de Chico Xavier


"Fica permitido aos novos tempos dizer “Eu te amo”…Uma vez pela manhã, uma pela tarde e uma pela noite. Fica estabelecida a lei do amor, fica permitida conhecer a verdade da vida a ausência da morte a eternidade da alma.Fica permitido dizer obrigado, por favor, com licença. Fica permitido entender que o erro é estágio da evolução. Fica totalmente permitido perdoar e se perdoar. Ficam permitidos o bem, a paz, a compaixão e a caridade. E revogam-se todas as permissões contrárias”.
Alem do tempo ... Novela de autoria da escritora Elizabeth Jhin

Abaixo, texto na voz de Chico Xavier que encerrou a novela Alem do Tempo

  "Estamos encarnados na Terra, Espíritos imortais que somos, para nos humanizarmos, de modo que todo processo de ódio ou de cólera é reminiscência de nossa vida animal. Vida animal que estamos deixando pouco a pouco, através de nosso burilamento. Então, é possível que tenhamos raiva ou que tenhamos ódio, é possível, sem termos direito para isso. Porque o ódio que sentirmos ou a cólera que alimentemos recai sempre sobre nós, no sentido de doença, de abatimento, de aflição e só pode nos causar mal, já que deixamos, há muito tempo, a faixa da animalidade para entrarmos na faixa da razão. Somos criaturas humanas e por isso devíamos sentir a verdadeira fraternidade de uns para com os outros, sem possibilidade de nos odiarmos, porque os irmãos verdadeiros nunca se enraivecem, uns contra os outros.".  

(CHICO XAVIER)

Dica da Marizilda Conti de Sampa. Pessoa de muita sensibilidade

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A beleza feminina sob a ótica masculina...

Foto:UNIVERSO - Modelo: WALCIRA
Não importa o quanto pesa.
É fascinante tocar, abraçar e acariciar o corpo de uma mulher.
Saber seu peso não nos proporciona nenhuma emoção.
Não temos a menor ideia de qual seja seu manequim.
Nossa avaliação se dá de outra forma,
isso quer dizer: se tem forma de guitarra... está bem.
Não nos importa quanto medem em centímetros, é uma questão de proporções, não de medidas.
As proporções ideais do corpo de uma mulher são: curvilíneas e carnudas.
Essa classe de corpo que, sem dúvida, se nota numa fração de segundo.
As magrinhas que desfilam nas passarelas, seguem a tendência desenhada
por estilistas que, diga-se de passagem, parecem odiar as mulheres e com elas competem.
Suas modas são retas e sem formas.
A maquiagem foi inventada para que as mulheres a usem. Usem!
Para andar de cara lavada, basta a nossa.
As saias foram inventadas para mostrar suas magníficas pernas...
Se a natureza lhes deu estas formas curvilíneas, foi por alguma razão e eu reitero: nós gostamos assim.
Ocultar essas formas é como ter o melhor sofá embalado no sótão.
É essa a lei da natureza... que todo aquele que se casa com uma modelo magra, anoréxica, bulêmica e nervosa logo procura uma amante cheinha,
simpática, tranqüila e cheia de saúde.
As jovens são lindas... mas as de 30 para cima, são verdadeiros pratos fortes.
Por tantas delas somos capazes de atravessar o atlântico a nado.
O corpo muda... cresce, não da pra entrar, sem ficar psicótica,no mesmo vestido que usava aos 18.
Uma mulher de 45, que entra na roupa que usou aos 18 anos, ou tem problemas de desenvolvimento ou está se auto-destruindo.
Nós gostamos das mulheres que sabem conduzir sua vida
com equilíbrio e sabem controlar sua tendência a culpas.
Ou seja, aquela que, quando tem que comer,come com vontade
(a dieta virá em setembro, não antes); quando tem que fazer dieta,
faz dieta com vontade (não se saboteia e não sofre);quando tem que ter intimidade com o parceiro, tem com vontade; quando tem que comprar algo que gosta, compra; quando tem que economizar, economiza.
ALGUMAS LINHAS NO ROSTO, ALGUMAS CICATRIZES NO VENTRE, ALGUMAS MARCAS DE ESTRIAS NÃO LHES TIRA A BELEZA.
SÃO TESTEMUNHAS DE QUE FIZERAM ALGO EM SUAS VIDAS,
não tiveram anos em formol, nem em spa... VIVERAM!
O corpo da mulher É O SAGRADO RECINTO DA GESTAÇÃO DE TODA A HUMANIDADE, onde foi alimentada, ninada e, sem querer, marcada por estrias, cesáreas e demais coisas que fizeram parte do processo que contribuiu para que estivéssemos vivos.
Portanto, Cuidem-no! Cuidem-se!
Amem-se! A beleza é tudo isto.

(PAULO COELHO)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

CASA ARRUMADA - Carlos Drummond de Andrade


 Casa com vida de artista - Sabará - Minas Gerais - Brasil
Foto: UNIVERSO 2013

Casa arrumada é assim: Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não centro cirúrgico, um cenário de novela. Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas... Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida...

Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha. Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa sem festa. E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.

Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde. Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...

Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda. A que está sempre pronta pros amigos, filhos... Netos, pros vizinhos... E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.

Arrume a casa todos os dias... Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo para viver nela... E reconhecer nela o seu lugar.

Há pessoas que acham que são e não são



Já escrevi e hoje complemento:

Há pessoas que pensam que são e não são

Há pessoas que olham e não veem

Há pessoas que escutam e não ouvem

Há pessoas que falam e não dizem

Há pessoas que pensam que pensam e pensam

Mas não sonham

(OSREVINU) - Pensamento de botequim das quebradas da vida

sábado, 9 de janeiro de 2016

LIÇÕES QUE APRENDI COM MEU FILHO AUTISTA - Marcos Mion


 Marcos Mion 

Foto: INTERNET


Li esse texto no Facebook e público aqui para reflexão de todos nós. 

Vejo pouca TV e não acompanho o trabalho do Marcos Mion, mas por sua sensibilidade e humildade em estar aberto para aprender com seu filho, tiro o meu chapéu e o congratulo por tão lindo e importante aula de sabedoria e percepção.

Obrigado por compartilhar a visão de vida de seu MESTRE.



Este texto é uma reflexão natalina. Um aprendizado.
Quanto mais leio para meus filhos sobre o “menino” Jesus e toda sua sabedoria, mais a identifico dentro da minha própria casa.
Não apenas os discípulos, mas todos que o conheciam, chamavam o menino Jesus de mestre.
Mestre não é um titulo que alguém pode atribuir a si mesmo. O mestre nasce da capacidade do interlocutor de reconhecer a sabedoria quando entra em contato com ela.
O mestre, para existir, por mais sábio que seja, depende da humildade daqueles ao seu redor de se reconhecerem numa posição de inferioridade, de aprendiz.
(E é assim que me sinto. Humilde e extremamente feliz de dividir meu dia a dia com uma criança que ilumina e engrandece todos ao seu redor)
Todos já me viram falar publicamente que me sinto abençoado e extremamente feliz por ter sido escolhido por Deus para ser pai de uma criança autista, ou como eu prefiro dizer, o guardião de um anjo. O meu Romeo.
Sempre que faço algum post, aparecem centenas de pais comentando e dividindo o mesmo sentimento de gratidão. Como se fosse um clube que, quem não faz parte, secretamente agradece e não consegue nem começar a entender porque aquelas pessoas são tão gratas por fazerem parte dele.
Afinal, como que, na pratica, meu filho me faz tanto bem? Como uma criança que, aparentemente, tem dificuldades consegue me ensinar?
Como falei acima, parte da minha capacidade de identificar a sabedoria e transforma-la num aprendizado.
Vou contar o que aconteceu este Natal e qual foi a lição que ele nos deu.
Como de costume, pelo fim de Novembro, minha esposa, Suzana, e eu juntamos os três para fazer a carta do Papai Noel.
- “Eu quero infinitos Legos!”, disse o Stefano
- “Calma que já tenho minha lista separada em imagens no ipad”, disse Doninha, lembrando da quantidade razoavelmente grande de presentes que ja tinha separado entre borrachas da Hello Kitty e um tênis da Nike, alem de varias coisas de menina de marcas que ela gosta.
Resumindo? Duas listas extensas e extremamente comuns para crianças que convivem num mundo tecnológico, repleto de marcas, com demandas que eu considero ridículas de consumismo. Propagandas em todo lugar, aquela maldita sensação, que eu odeio, causada na escola que é necessário ter pra existir. Sensação que lutamos muito contra em casa enchendo as crianças de auto confiança, dando “centro” pra elas saberem que o que interessa na vida não são as coisas que o dinheiro compra, mas que, por motivos óbvios, sempre cerca qualquer criança hoje em dia. Ainda mais na época do Natal!!
Até que chegamos no Romeo e indagamos o que ele gostaria de ganhar do Papai Noel.
“Uma escova de dentes azul”.
E agora chegamos no ponto crucial desse texto.
Se você da risada com essa resposta e pensa que o menino autista realmente esta fechado no seu mundo e não conecta com a realidade, que é filho de um artista de tv, que poderia pedir qualquer coisa no mundo que ganharia e, burro, pediu só uma escova de dentes azul, esse texto não vai fazer sentido algum pra você. Pode parar por aqui. Você não consegue identificar um ensinamento quando se depara com um.
Suzana e eu, instantaneamente ficamos emocionados com aquela resposta. Ao meio de tanto consumismo, numa época que virou símbolo de consumismo, nosso mestre, sem saber, sem ter a consciência externa do que estava fazendo, afinal sua sabedoria é nata, é orgânica e instintiva, colocou nossos pés no chão, nos remontando com os verdadeiros valores do Natal.
O que realmente vale nessa vida? Essas coisas materiais vão com o tempo, quebram, ficam velhas e obsoletas tornado-se um lembrete vivo e constante de dinheiro que jogamos pela janela adquirindo valores que não interessam.
Não serei hipócrita e dizer que não é saudável comprar brinquedos e presentes. Não é isso. Sou totalmente a favor de usar o ato da compra material como recompensa e até como educação, inclusive de valores morais, mas fato é que existe um grande exagero nas proporções que o consumismo tomou hoje em dia, como mencionei explicando os pedidos dos meus outros filhos.
Ainda perguntamos pra ele se não queria mais nada, um bichinho de pelúcia que ele adora, um ipad novo que, para quem não sabe, é uma das ferramentas mais poderosas de comunicação dos autistas com o mundo exterior, mas ele foi categórico: “uma escova de dentes azul. É isso que eu quero ganhar do Papai Noel”.
Até que finalmente chegou o dia do Natal. Fizemos a comemoração da véspera, deixamos os cookies feitos em família na varanda para o bom velhinho e todos foram dormir muito ansiosos com a visita do Papai Noel na madrugada.
Não preciso dizer que 5:00 am já ouvi Tefo rasgando papel de presente! rs.
Levantamos para acompanhar e viver com eles todo esse momento magico que tem data de validade, pois a crença real no Papai Noel não é eterna e, hoje em dia, acaba cada vez mais cedo. E enquanto Tefo e Doninha pareciam dois demônios da tasmânia envoltos em presentes e embrulhos, abrindo mais um e mais um e mais um, Romeo assistia de longe com um certo grau de tensão no ar.
“O Papai Noel trouxe minha escova de dentes azul?” ele perguntava sentindo o que eu identifiquei como medo de frustração! Uma real incerteza se ganharia aquele único e tão valioso presente. Lembrem que isso foi na manhã do dia 25, quase 2 meses depois do dia que escreveram as cartas e essa ainda era sua única vontade, seu único desejo de Natal.
Conduzi Romeo até arvore e o deixei identificar o presente com seu nome!
Fico emocionado ao lembrar, mas ele abriu o embrulho com uma expectativa tão grande, uma ingenuidade e um doutorado em desapego que, quando o ultimo pedaço de papel revelou sua escova de dentes azul, ele foi tomado de emoção!!  Abaixou a cabeça num alivio e se atrapalhou de tão forte que essa emoção veio.
Sim, ele chorou.
Chorou de alegria, inundado pela mais pura e bela emoção! Eu e Suzana choramos juntos.
Tão pouco…um presente tão simples…e ai me deu o estalo. Mestre!
Entendi que era algo muito maior do que uma simples escova de dentes. Ali, naquela emoção, naquela pureza, naquela humildade e, acima de tudo, naquele desapego, tive a maior lição de Natal da minha vida.
Obrigado Mestre, por mais uma. Te amo.