quinta-feira, 24 de abril de 2014

Uma lição de vida - pessoas que vivem nas ruas, são humanos, você sabia disso?

Assista ao vídeo abaixo e aprenda bem uma boa lição de vida.

Pessoas que vivem nas ruas, trabalhadores que executam tarefas mais simples, pessoas mais simples do que você, não são seres invisíveis e merecem atenção, carinho e respeito.

Respeite as diversidades e trate a todos como você gosta de ser tratatado.

São pessoas com sentimentos, sonhos e não podem ser esquecidas.



DICA do Maurilo Andreas, de Belo Horizonte, amigo da família.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Não te apaixones - Martha Rivera Garrido

 
NAMORADEIRA


Foto:UNIVERSO - Mercado Central de Belo Horizonte - Minas Gerais


Não te apaixones por uma mulher que lê, por uma mulher que tem sentimentos, por uma mulher que escreve...
Não te apaixones por uma mulher culta, maga, delirante, louca. Não te apaixones por uma mulher que pensa, que sabe o que sabe e também sabe voar, uma mulher que confia em si mesma.
Não te apaixones por uma mulher que ri ou chora, que sabe transformar a carne em espírito; e muito menos te apaixones por uma mulher que ama poesia (estas são as mais perigosas), ou que fica meia hora contemplando uma pintura e não é capaz de viver sem música .
Não te apaixones por uma mulher que está interessada em política, que é rebelde e sente um enorme horror pelas injustiças. Não te apaixones por uma mulher que não gosta de assistir televisão. Nem de uma mulher que é bonita, mas, que não se importa com as características de seu rosto e de seu corpo.
Não te apaixones por uma mulher intensa, brincalhona, lúcida e irreverente. Não queiras te apaixonar por uma mulher assim. Porque quando te apaixonares por uma mulher como esta, se ela vai ficar contigo ou não, se ela te ama ou não, de uma mulher assim, jamais conseguirás ficar livre...
Dica da amiga Sonia Nigri, do Rio de janeiro.

Velho é uma conquista. Idoso é uma rendição.- Eliane Brum

Já publiquei outro textos de Elaine Brum aqui no BLOG. Gosto de suas escolhas e de suas palavras.
Vale a pena ler esse texto até o final. Boa leitura.
Eliane Brum - Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de um romance - Uma Duas (LeYa) - e de três livros de reportagem: Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) O Olho da Rua (Globo). E codiretora de dois documentários: Uma História Severina e Gretchen Filme Estrada.

Na semana passada, sugeri a uma pessoa próxima que trocasse a palavra “idosas” por “velhas” em um texto. E fui informada de que era impossível, porque as pessoas sobre as quais ela escrevia se recusavam a ser chamadas de “velhas”: só aceitavam ser “idosas”.  Pensei: “roubaram a velhice”.  As palavras escolhidas – e mais ainda as que escapam – dizem muito, como Freud já nos alertou há mais de um século. Se testemunhamos uma epidemia de cirurgias plásticas na tentativa da juventude para sempre (até a morte), é óbvio esperar que a língua seja atingida pela mesma ânsia. Acho que “idoso” é uma palavra “fotoshopada” – ou talvez um lifting completo na palavra “velho”. E saio aqui em defesa do “velho” – a palavra e o ser/estar de um tempo que, se tivermos sorte, chegará para todos.
Desde que a juventude virou não mais uma fase da vida, mas uma vida inteira, temos convivido com essas tentativas de tungar a velhice também no idioma. Vale tudo. Asilo virou casa de repouso, como se isso mudasse o significado do que é estar apartado do mundo. Velhice virou terceira idade e, a pior de todas, “melhor idade”. Tenho anunciado a amigos e familiares que, se alguém me disser, em um futuro não tão distante, que estou na “melhor idade”, vou romper meu pacto pessoal de não violência. O mesmo vale para o primeiro que ousar falar comigo no diminutivo, como se eu tivesse voltado a ser criança. Insuportável.
A velhice é o que é. É o que é para cada um, mas é o que é para todos, também. Ser velho é estar perto da morte. E essa é uma experiência dura, duríssima até, mas também profunda. Negá-la é não só inútil como uma escolha que nos rouba alguma coisa de vital. Semanas atrás, em um programa de TV, o entrevistador me perguntou sobre a morte. E eu disse que queria viver a minha morte. Ele talvez não tenha entendido, porque afirmou: “Você não quer morrer”. E eu insisti na resposta: “Eu quero viver a minha morte”.
Na adolescência, eu acalentava a sincera esperança de que algum vampiro achasse o meu pescoço interessante o suficiente para me garantir a imortalidade. Mas acabei aceitando que vampiros não existem, embora circulem muitos chupadores de sangue por aí. Isso só para dizer que é claro que, se pudesse escolher, eu não morreria. Mas essa é uma obviedade que não nos leva a lugar algum.  Que ninguém quer morrer, todo mundo sabe. Mas negar o inevitável serve apenas para engordar o nosso medo sem que aprendamos nada que valha a pena.
Há uma bela expressão que precisamos resgatar, cujo autor não consegui localizar: “A morte não é o contrário da vida. A morte é o contrário do nascimento. A vida não tem contrários”. A vida, portanto, inclui a morte. Por que falo da morte aqui nesse texto? Porque a mesma lógica que nos roubou a morte sequestrou a velhice. A velhice nos lembra da proximidade do fim, portanto acharam por bem eliminá-la. Numa sociedade em que a juventude é não uma fase da vida, mas um valor, envelhecer é perder valor.  Os eufemismos são a expressão dessa desvalorização na linguagem.A morte tem sido roubada de nós. E tenho tomado providências para que a minha não seja apartada de mim. A vida é incontrolável e posso morrer de repente. Mas há uma chance razoável de que eu morra numa cama e, nesse caso, tudo o que eu espero da medicina é que amenize a minha dor. Cada um sabe do tamanho de sua tragédia, então esse é apenas o meu querer, sem a pretensão de que a minha escolha seja melhor que a dos outros. Mas eu gostaria de estar consciente, sem dor e sem tubos, porque o morrer será minha última experiência vivida. Acharia frustrante perder esse derradeiro conhecimento sobre a existência humana. Minha última chance de ser curiosa.
Não, eu não sou velho. Sou idoso. Não, eu não moro num asilo. Mas numa casa de repouso. Não, eu não estou na velhice. Faço parte da melhor idade. Tenho muito medo dos eufemismos, porque eles soam bem intencionados. São os bonitinhos mas ordinários da língua.  O que fazem é arrancar o conteúdo das letras que expressam a nossa vida. Justo quando as pessoas têm mais experiências e mais o que dizer, a sociedade tenta confiná-las e esvaziá-las também no idioma.
Chamar de idoso aquele que viveu mais é arrancar seus dentes na linguagem. Velho é uma palavra com caninos afiados – idoso é uma palavra banguela. Velho é letra forte. Idoso é fisicamente débil, palavra que diz de um corpo, não de um espírito. Idoso fala de uma condição efêmera, velho reivindica memória acumulada. Idoso pode ser apenas “ido”, aquele que já foi. Velho é – e está.  Alguém vê um Boris Schnaiderman, uma Fernanda Montenegro e até um Fernando Henrique Cardoso como idosos? Ou um Clint Eastwood? Não. Eles são velhos.
Idoso e palavras afins representam a domesticação da velhice pela língua, a domesticação que já se dá no lugar destinado a eles numa sociedade em que, como disse alguém, “nasce-se adolescente e morre-se adolescente”, mesmo que com 90 anos. Idosos são incômodos porque usam fraldas ou precisam de ajuda para andar. Velhos incomodam com suas ideias, mesmo que usem fraldas e precisem de ajuda para andar. Acredita-se que idosos necessitam de recreacionistas. Acredito que velhos desejam as recreacionistas. Idosos morrem de desistência, velhos morrem porque não desistiram de viver.
Basta evocar a literatura para perceber a diferença. Alguém leria um livro chamado “O idoso e o mar”?  Não. Como idoso o pescador não lutaria com aquele peixe. Imagine então essa obra-prima de Guimarães Rosa, do conto “Fita Verde no Cabelo”, submetida ao termo “idoso”: “Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam...”.
Como em 2012 passei a estar mais perto dos 50 do que dos 40, já começo a ouvir sobre mim mesma um outro tipo de bobagem.  O tal do “espírito jovem”. Envelhecer não é fácil. Longe disso. Ainda estou me acostumando a ser chamada de senhora sem olhar para os lados para descobrir com quem estão falando.  Mas se existe algo bom em envelhecer, como já disse em uma coluna anterior, é o “espírito velho”. Esse é grande.
Vem com toda a trajetória e é cumulativo. Sei muito mais do que sabia antes, o que significa que sei muito menos do que achava que sabia aos 20 e aos 30. Sou consciente de que tudo – fama ou fracasso – é efêmero. Me apavoro bem menos. Não embarco em qualquer papinho mole. Me estatelei de cara no chão um número de vezes suficiente para saber que acabo me levantando. Tento conviver bem com as minhas marcas. Conheço cada vez mais os meus limites e tenho me batido para aceitá-los. Continua doendo bastante, mas consigo lidar melhor com as minhas perdas. Troco com mais frequência o drama pelo humor nos comezinhos do cotidiano. Mantenho as memórias que me importam e jogo os entulhos fora. Torço para que as pessoas que amo envelheçam porque elas ficam menos vaidosas e mais divertidas. E espero que tenha tempo para envelhecer muito mais o meu espírito, porque ainda sofro à toa e tenho umas cracas grudadas à minha alma das quais preciso me livrar porque não me pertencem. Espero chegar aos 80 mais interessante, intensa e engraçada do que sou hoje.
Envelhecer o espírito é engrandecê-lo. Alargá-lo com experiências. Apalpar o tamanho cada vez maior do que não sabemos. Só somos sábios na juventude. Como disse Oscar Wilde, “não sou jovem o suficiente para saber tudo”. Na velhice havemos de ser ignorantes, fascinados pelas dimensões cada vez mais superlativas do que desconhecemos e queremos buscar.  É essa a conquista. Espírito jovem? Nem tentem.
Acho que devíamos nos rebelar. E não permitir que nos roubem nem a velhice nem a morte, não deixar que nos reduzam a palavras bobas, à cosmética da linguagem. Nem consentir que calem o que temos a dizer e a viver nessa fase da vida que, se não chegou, ainda chegará. Pode parecer uma besteira, mas eu cometo minha pequena subversão jamais escrevendo a palavra “idoso”, “terceira idade” e afins. Exceto, claro, se for para arrancar seus laços de fita e revelar sua indigência.
Quando chegar a minha hora, por favor, me chamem de velha. Me sentirei honrada com o reconhecimento da minha força. Sei que estou envelhecendo, testemunho essa passagem no meu corpo e, para o futuro, espero contar com um espírito cada vez mais velho para ter a coragem de encerrar minha travessia com a graça de um espanto
Dica da prima Áurea Maranduba, de Juiz de Fora
Eliane Brum, escreve às segundas -  feiras na Revista Época

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Incompetência do IPEA sobre pesquisa - São 26% e não 65% brasileiros que concordam que as mulheres devam ser estupradas por mostrarem o corpo.

MESMO COM O ERRO DO IPEA, 26% DOS BRASILEIROS SÃO A FAVOR DE SE ESTUPRAR MULHERES POR EXIBIREM O CORPO.

ISSO É UMA CRETINICE ABSURDA. NÃO HÁ NADA QUE JUSTIFIQUE ESSE PENSAMENTO E ATITUDE.


Ipea reconhece erro em pesquisa de estupro - 65% era 26%

Instituto reconhece erro na pesquisa que dizia que 65% dos brasileiros concordam que mulheres que mostram corpo merecem ser atacadas. Na verdade, são 26%

Wikicommons
mulher chorando
Sãoi Paulo - O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou nota hoje em que reconhece erro na pesquisa “Tolerância social à violência contra as mulheres”, que causou polêmica na semana passada. O número de maior repercussão mostrava que 65% dos brasileiros concordavam com a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Na verdade, o número é de 26%.
Compare a forma como os brasileiros de fato responderam à questão e, em seguida, como ela foi publicada na semana passada:
Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas (em %)
Correto
Discorda totalmenteDiscorda parcialmenteNeutroConcorda parcialmenteConcorda totalmente
58,4%11,6%3,4%12,8%13,2%
Errado
Discorda totalmenteDiscorda parcialmenteNeutroConcorda parcialmenteConcorda totalmente
24%8,4%1,9%22,4%42,7%
O diretor da área de Estudos e Políticas Sociais do instituto, Rafael Osório, pediu exoneração do cargo após o erro ter sido percebido.
Veja a nota do Ipea na íntegra:
"Vimos a público pedir desculpas e corrigir dois erros nos resultados de nossa pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres, divulgada em 27/03/2014. O erro relevante foi causado pela troca dos gráficos relativos aos percentuais das respostas às frases Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar e Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Entre os 3.810 entrevistados, os percentuais corretos destas duas questões são os seguintes:
Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar (Em %)
Discorda totalmenteDiscorda parcialmenteNeutroConcorda parcialmenteConcorda totalmente
248,41,922,442,7
Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas (Em %)
Discorda totalmenteDiscorda parcialmenteNeutroConcorda parcialmenteConcorda totalmente
58,411,63,412,813,2
Corrigida a troca, constata-se que a concordância parcial ou total foi bem maior com a primeira frase (65%) e bem menor com a segunda (26%). Com a inversão de resultados entre as duas questões, relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias.
O outro par de questões cujos resultados foram invertidos refere-se a frases de sentido mais próximo, com percentuais de concordância mais semelhantes e que não geraram tanta surpresa, nem tiveram a mesma repercussão. Desfeita a troca, os resultados corretos são os que seguem. Apresentados à frase O que acontece com o casal em casa não interessa aos outros, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9% discordaram parcialmente, 1,9% ficou neutro (não concordou nem discordou), 31,5% concordaram parcialmente e 47,2% concordaram totalmente. Diante da sentença Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, 11,1% discordaram totalmente, 5,3% discordaram parcialmente, 1,4% ficaram neutros, 23,5% concordaram parcialmente e 58,4% concordaram totalmente.
A correção da inversão dos números entre duas das 41 questões da pesquisa enfatizadas acima reduz a dimensão do problema anteriormente diagnosticado no item que mais despertou a atenção da opinião pública. Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros. As conclusões gerais da pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre seus preconceitos. Pedimos desculpas novamente pelos transtornos causados e registramos nossa solidariedade a todos os que se sensibilizaram contra a violência e o preconceito e em defesa da liberdade e da segurança das mulheres.
Rafael Guerreiro Osorio* e Natália Fontoura
Pesquisadores da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea) e autores do estudo
* O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea pediu sua exoneração assim que o erro foi detectado."
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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Campanha contra o estupro e abuso sexual de menores - Reprodução de texto e fotos da FolhaOnline


Bastou pouco mais de um dia para que uma foto enviada pela leitora e estudante Bianca Medeiros, 19, se tornasse a imagem mais visualizada e compartilhada nos quatro anos da página da Folhano Facebook.
Ela foi feita na semana passada, em apoio ao protesto virtual "Eu não mereço ser estuprada" –e incentivou que dezenas de fotos com teor semelhante fossem mandadas. Bianca diz que a iniciativa foi para que a manifestação "não perdesse força".
"O dedo é um gesto de protesto contra os 65%", afirma a estudante, em referência à pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que deu origem ao ato virtual ao apontar que dois terços dos brasileiros acham que a mulher que mostra seu corpo merece ser atacada.
Após postada no Facebook, a imagem de Bianca alcançou quase 11 milhões de usuários. Três leitoras, motivadas pela postagem, decidiram revirar um passado já sepultado e enviar relatos de abuso sexual.
Mexer em uma ferida profunda, ainda que em anonimato para proteger parentes da exposição, tem um motivo claro para todas: compartilhar experiências para que abusos sejam denunciados e traumas sejam superados.

TATIANA*, 30, ANALISTA DE ATENDIMENTO
Tatiana foi abusada sexualmente por um tio quando tinha só 9 anos. Agora consegue falar sobre isso e espera que seu relato, enviado pelo Facebook daFolha, dê forças para pessoas que sofreram a mesma situação.
Escrevo de forma anônima porque eu não tenho a intenção de chocar minha família e meus amigos. Mas eu sinto que é o momento de falar, abraçar a causa. Aproveitar que hoje, graças a Deus e a alguns anos de terapia, eu consigo falar sobre o assunto sem me magoar. Consigo fazer sexo de forma natural.
Para e pensa: eu tinha só 9 anos. A primeira vez que aconteceu eu estava de saia -eu sempre estava de saia! Será que por esse motivo eu estava pedindo? Não, eu não estava pedindo.
Eu confiava naquela pessoa. Era meu tio. Acreditava quando ele me tocava intimamente e dizia que aquilo era só carinho. Eu não gostava, não queria, sentia nojo quando, além dos dedos, ele usava a língua nas minhas partes íntimas dizendo que aquilo era carinho. Eu tive febre, vomitei, senti nojo e me calei. Tinha medo e vergonha. Não tenho mais.
Comecei a namorar aos 22 anos e só aí me senti preparada para me relacionar sexualmente. Roupa não dita caráter e muito menos desejo sexual. Meu corpo é meu templo e só eu decido com quem eu quero transar -eu estando de burca ou pelada.
Pense na sua mãe, nas suas irmãs, filhas e sobrinhas. Alguma mulher da sua família pode, neste momento, estar sendo abusada, molestada, estuprada e sofrendo calada. Não, eu não pedi. Não, eu não quis. Não, eu não tive culpa.
*
JOANA*, 22, DECORADORA
A culpa não é nossa! A culpa é dos nojentos aos montes passando por nós o tempo todo. Estou impressionada com tantas mulheres que, indignadas como eu, estão se abrindo. E quer saber? Já é hora. Se temos alguma culpa é a de nos calar, por medo ou vergonha.
Sim eu também já fui abusada, há dois anos. E de onde eu menos esperava -dentro da minha própria casa.
Não fui estuprada, graças à Deus. Mas foi uma tentativa. Um abuso muito maior do que levar uma cantada indecente na rua ou uma passada de mão na balada -que muitos não imaginam o quanto isso também é desagradável.
Isso deixou marcas profundas que supero um pouco todos os dias.
Sabe o que eu mais ouço? "Mas você estava de roupa curta?" A resposta é não, estava de calça e casaco. E mesmo que eu estivesse, não justifica.
Muitos dizem que o homem é assim mesmo, movido pelo instinto. Instinto é o caramba, somos todos seres racionais.
Digo isso tudo hoje por acreditar que esse seja o primeiro passo para acabarmos com os absurdos que acontecem todos os dias embaixo do nosso nariz e a maioria ignora. Você não imagina que conhece muito mais mulheres que já viveram muitos tipos de abuso.
Espero que isso ajude outras mulheres de alguma forma e que faça com que todos lutem por um mundo menos machista.
*
PATRÍCIA, 27, DESIGNER GRÁFICA
Muitos me conhecem, mais poucos sabem o que aconteceu comigo.
Tenho 27 anos e fui abusada sexualmente por uma pessoa da minha família quando eu era adolescente.
Nada foi feito, tive medo de ninguém acreditar em mim.
O agressor era da minha própria família. Pela primeira vez senti vontade de falar sobre o tema -hoje superei meu trauma.
Mas, ao vencer as marcas de uma violência, fui obrigada a vencer o preconceito: sou casada com uma mulher e minha opção também é cercada de agressividade e de ódio.
Nós temos medo desse mundo machista, sem amor e sem respeito. Não mereço ser estuprada e não mereço ser estuprada de novo. Ninguém merece. 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Eu, hein? Vai entender o ser humano... Bolsas de grife

Foto: UNIVERSO - CHILE - VALE DEL VULCAN


Há uma lei em minha cidade que proíbe o uso de faixas dependuradas pela cidade para vender , divulgar, o que quer que seja . 

Exceção para as faixas de órgãos públicos para divulgar campanhas de vacinação, mudanças no trânsito, campanhas educativas, etc.

Acontece, que muitas pessoas não estão nem aí, e como brasileiros mal educados, se julgam no direito de desrespeitar as leis para promover seus negócios dependurando faixas e banners para todo lado .

Eu, que ando com minha velha Rural Wyllis, ano 66, cor de burro fugido, tipo rural mais enxuta e massa da cidade (Deve ter mais de 5 anos que não entra num lava jato e tem massa plástica até no teto), dirijo distraído, olhando para essas faixas, vendo seus reclames e telefones. Anoto os números e depois ligo para tentar fazer negócios, o que não tem sido muito fácil, devido ao atendimento de péssima qualidade dos atendentes dessas empresas.

Fatos que tenho relatado no FB e dos quais vocês são testemunhas disso .

Aliás, preciso parar de dirigir olhando para as faixas, ontem, quase entrei na traseira de uma Ferrari Califórnia novinha . 

Bem, a última faixa que vi e li informava a venda de bolsas de grife com entrega em domicílio .

Anotei o número do celular e pensando em fazer uma surpresa para a minha mulher, liguei para comparar preços de bolsas das marcas Dolce Gabana, Balenciaga, Luis Vuitton, Prada, Lacoste e outras, e quem sabe adquirir uma .

Ligo, toin, toin, toin - ocupado

Tento outra vez, e outra e mais tantas outras vezes e o danado do celular sempre ocupado . 

Até que, tchan! Surpresa, consigo ser atendido . Voz de mulher

Pergunto se ela é que anunciou a venda de bolsas .

Sim, meu querido . 

Já fiquei invocado, acho esse tipo de tratamento por telefone, com uma pessoas estranha, no mínimo estanho .

As bolsas que vocês anunciam são legitimas mesmo ou são cópias falsificadas?

Meu querido, nós importamos todos os nossos produtos, somos especializados em bolsas de grife e nossa clientela é top .

Qual a base de preço?

Depende do modelo e da marca . Temos bolsas, carteiras e porta níqueis das melhores grifes . Os preços podem chegar a te´a R$ 3.000,00 . 
O mais barato são as bolsa sem acessórios - carteiras e porta níqueis. E as mais caras as com o conjunto completo . 
Posso levar peças variadas do mostruário até a sua casa, você escolhe e pode pagar no cartão de crédito, levamos a maquininha . 

Mas, me diga uma coisa as bolsas, carteiras e porta níqueis, todas elas trazem o logo das suas marcas?

Claro!

Então vamos combinar o seguinte, me traga o mostruário dos porta níqueis para eu escolher um para presentear minha mulher no dia de nossa bodas de ouro .

Meu senhor não vendemos só porta níqueis, assim não dá.

Então faz o seguinte, para ficar mais em conta me traga os modelitos feitos nas “Indústrias de Couro Sintético Generalíssimo e Grande Presidente Stroessner” de Ciudad Del leste, no  Paraguai. 
Dizem que as melhores são as de pele de Tartaruga . 

Seu cretino, vai arranjar o que fazer, vai @”%$*(_+^?><}

Toin , toin, toin, toin !!!

Mais um telefone desligado na cara de um cliente, na maior falta de educação na história desse país .

Eu, hein? Vai entender o ser humano?????

Chá da tarde com Manuel Bandeira

Foto: Dica de Eric Cohen no Face Book

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Andorinha

Andorinha lá fora está dizendo:
— “Passei o dia à toa, à toa!”
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa…

Os Sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Cartas de Meu Avô

A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente…
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.
Cartas de antes do noivado…
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.
Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala…
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.

O Último Poema

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Consoada

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

O Anel de Vidro

Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou
Assim também o eterno amor que prometeste,
— Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.
Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, —
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou
Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste

Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

Poemas : Revista Bula