domingo, 24 de abril de 2016

Ponte que não me leva. Ponte que não me atravessa - Rita Alves

Foto: Internet - desconheço o autor - quem conhecer favor informar para que eu possa dar os merecidos créditos

Ponte que não me leva. Ponte que me atravessa.
Ali, onde os castelos são feitos de sonhos, brumas e beijos. Onde a torre guarda jasmins e girassóis. Onde encontramos a linha do infinito cada vez que nos olhamos.
Reparto o pouco que tenho, multiplico o muito que sinto.
Sou o meu próprio avesso, em que me reconheço. Nele me aprofundo, no espelho que atravessa meu contorno.
Ouço o som das águas que inundam minha alma de navegante.
Divida comigo a dúvida do abrigo.
Aguardo deste lado da margem a embarcação, nela está a outra margem.
Multiplico as searas nas múltiplas colheitas.
Distraída passo pela vida sem ser subtraída. Sou meu próprio tempo.
Sei do imensurável fio que conduz a brevidade do tempo.E no infinito deste momento renasço e morro de contentamento
Trago em mim navios e oceanos. Aguardo o silencio. Com ele o desfolhar das horas.
Meu vazio tem imensidão para acolher o novo e tudo o que colecionei ao longo da vida.Os pássaros que me habitam só voltam pela manhã.
Todos os domingos são parques de diversões. Coro de crianças, sorvetes e pipocas, mesmo quando há silêncio em mim. Sim, passam despercebidos aos nossos olhos os momentos mais importantes da nossa vida. Condenso e fortifico minha transparência. Transpareço minha consistência densa. Vou com o vento, volto miragem.
Penso enquanto vivo, vivo enquanto sonho. Retiro véus e me descubro nuvem.
Vou espalhando pelo caminho um pouco do que procuro. Sei que tenho asas mesmo quando não voo. Exclamo, interrogo, reticente...
Faço dos meus olhos bussola e leme. Trago em mim um pouco de cada coisa que não fui.
Dormi com as estrelas florindo a pele, acordei manhã. Meu deserto instaura em meus olhos alguns oásis. E as sílabas soltas flutuam no tempo, escrevendo um livro de sentenças.
Sentir, olhar, observar. Valem mais do que mil páginas lidas ou mais de mil teses escritas.
No verão, percebo os invernos que há em mim. Enquanto navego pelos icebergs da vida, me inundo de calor e cor.
Carrego dentro de mim pincéis e fogueiras. O doce não retira o amargo da boca.
Viajo e vejo minha paisagem interior. Encontro-me nos menores espaços, onde eu possa voar na imensidão do céu.
Aprecio as nuvens. Chuva? Trago o sol dentro de mim. Um pouco de sol, para que clareie a mente e doure o corpo.
Mesmo se caírem as pétalas, as flores espalharão perfume pelo caminho.
Os pés. São meus pés que me conduzem ao meu próprio UNIVERSO criativo.
Pinto um quadro com as tintas liquefeitas da alma. No mais negro dos céus, brilham as estrelas. Meu verso é o vento que espalha o alfabeto.
Não vou a lugar nenhum que me leve para longe de mim.

Dica do amigo: Eric Cohen - Via FB 

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