O queijo Canastra, sabor rústico das Gerais, têm história para se manter como um patrimônio brasileiro original. Saiba mais sobre essa delícia
Centro de maturação do queijo Canastra, em Medeiros - Minas Gerais, capacidade para 8 toneladas de queijo.

O queijo Canastra está na lista do patrimônio cultural brasileiro
A serra da Canastra, em Minas Gerais, preserva uma preciosidade: o queijo Canastra. A produção artesanal dessa iguaria de leite cru foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2008, como patrimônio cultural e imaterial brasileiro. Cerca de 1800 famílias vivem dessa atividade na região, mas apenas pouco mais de 20 produtores ainda conservam o paladar e as características do genuíno Canastra: maturado e de casca amarela.
Estilo original
Porém, desde 1952, a legislação federal sobre vigilância sanitária impede a comercialização de produtos não pasteurizados. E assim, o queijo artesanal feito de leite cru caiu na ilegalidade. Para agravar a situação, a figura do queijeiro entra em cena a partir dos anos 1970. Ele passa pelas propriedades familiares, enche as caminhonetes e paga o preço que lhe convém para abastecer os grandes centros consumidores. Anteriormente, os queijos esperavam um tempo de maturação adequado (entre 20 a 30 dias) e seguiam com tropeiros em lombo de burro. Na ânsia de atender esses atravessadores, quase a totalidade da produção passou a ser vendida como um vulgar queijo frescal. Assim, o verdadeiro Canastra perde um traço importante de sua identidade. Torna-se uma tarefa difícil, mesmo na região, encontrar um queijo com o sabor mais apurado e singular do Canastra curado.
Herança cultural
O fazendeiro Baltazar Silva, conhecido como Zé Mário, de São Roque de Minas, lembra bem o tempo anterior às ânsias mercantis. Herdou a fazenda e os saberes de seu pai. Fez seu primeiro queijo com 7 anos de idade e há mais de 50 se dedica à atividade diariamente. "No tempo do meu pai, os produtores vendiam queijo apenas uma vez por mês. Queijo com oito dias de idade não ia para o transporte, ficava para o mês seguinte. Aí já começa a grande diferença. Você só via queijo, no mercado, amarelinho. Hoje se vende de duas a três vezes por semana", conta.
Zé Mário - Campeão
Itamar - Loja do Itamar
Identidade lucrativa
Um programa dedicado aos produtores de queijo foi criado pelo governo de Minas em 2002, depois de alguns intercâmbios com associações produtoras na França, a meca do queijo no mundo. Para João Carlos, da fazenda Agroserra, a troca de experiências com a turma do roquefort e do camembert foi decisiva. "Eles nos mostraram que é possível manter nossa identidade, transformar isso numa atividade econômica rentável e perpetuar a cultura local. Produzir queijo artesanal de qualidade e com segurança alimentar. Eles passaram por esse mesmo processo há 30 anos", afirma.
Em 2009, Zé Mário foi convidado a participar da Feira Nacional de Agricultura Familiar, no Rio de Janeiro: "Você não acredita no sucesso que esse queijo fez. Em seis dias, nossa mercadoria havia zerado. Nos dois últimos dias, os mais fortes da feira, já não tínhamos mais queijo". Prova de que há um vasto mercado de consumidores mais exigentes nos grandes centros urbanos que valorizam produtos típicos de qualidade.
Chácara Esperança
Itamar - Loja do Itamar
Luciano - Chacára Esperança e Rodrigo - Loja do Itamar
Os proprietários da Chácara Esperança, o casal Luciano e Helena Carvalho, de Medeiros, só vendem o queijo maturado, inclusive para garantir a segurança alimentar. "Se houver qualquer problema com o queijo, ele vai apodrecer, não vai curar. Uma coisa casa com a outra: você só consegue ver sabor quando ele é maturado", afirma.
O casal fabrica o Canastra Real, com uma cura de no mínimo 60 dias. Luciano participou de um intercâmbio em 2009 promovida pela ONG francesa Agrifert e foi conhecer as cadeias de produções artesanais francesas. Essa experiência reforçou o orgulho pelo paladar do Canastra e serviu para aprimorar a mercadoria.
"Quando fui à Europa e conheci os queijos de lá, me animei muito com os nossos. Eles apresentam bolor, casca rachada, não há um acabamento fino, lixado e bonito como os da indústria. Nós começamos fazer a mesma coisa aqui. Percebi um aprimoramento do sabor, porque ele cria sua própria casca, seu próprio meio. A casca é como se fosse a embalagem. Quando você faz o acabamento, você tira a proteção. Hoje, meus clientes já preferem esse produto mais rústico de paladar mais acentuado", afirma Luciano.
Outros produtores de qualidade do famoso Queijo Minas Canastra
Fazenda do Nereu
Nereu - produtor
Fazenda do Valtinho
Valtinho - produtor
LIVROS
Viagem às Nascentes do Rio São Francisco, Saint-Hilaire, Itatiaia
DICA: Rodrigo Gomes de Oliveira da Loja do Itamar - Mercado Central de Belo Horizonte - Minas Gerais - A melhor loja de queijos e doces mineiros. Meu fornecedor e guru para assuntos gastronômicos.
Fotos: Rodrigo Gomes de Oliveira
Excelente descrição do nosso maior orgulho, o Queijo Canastra. Como produtores lamentamos somente a falta de informação do consumidor, sobretudo os da capital mineira que há tempos consomem um pseudo Queijo Canastra de procedência das mais variadas cidades do Estado. Basta andar pelo Mercado Central para ver que se anuncia Queijo Canastra de tudo quanto é lugar. Pois bem, na tentativa de que terminasse esta enganação em 2012 o Queijo Canastra (o legítimo) obteve a Certificação Geográfica junto ao INPI, onde foi delimitada a região que possui unicidade de condições edafoclimáticas (solo e clima) que conferem o sabor único e característico do Canastra. Desta forma, somente os municípios de Piumhi, Medeiros, São Roque de Minas, Vargem Bonita, Delfinópolis, Bambuí e Tapiraí se podem dizer produtores desta iguaria.
ResponderExcluirObrigado pelas suas informações que vieram complementar e enriquecer a publicação sobre o nosso delicioso queijo Canastra.
ResponderExcluirVolte sempre e se tiver mais matéria sobre o verdadeiro queijo Canastra de Minas Gerais, pode enviar que publicarei com prazer.
Grande abraço do Universo