sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Tivesse Eu... Márcia Cristina Lio Magalhães

Foto: Internet - Desconheço o autor

Tivesse eu poderes santos!
A divagar seu nome nas paredes mortas
Das cinzas do silêncio
Do fogo da ausência...

Tivesse eu poderes mágicos!
De asas de alegria que pousam nos sonhos
De páginas em branco nos labirintos de tinta...

Tivesse eu poderes natos!
Nasceria no jardim aos pés de girassóis
Para celebrar ao sol, primaveras eternas...

Tivesse eu poderes ímpios!
Mataria a morte em goles suicidas
Tombaria a espada em nome da boemia
Beberia o verso, pra acordar poeta...

DA "BRIMA" (Márcia Cristina Lio Magalhães) - Blog Poetar é Preciso

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José Saramago

Foto: UNIVERSO - CHILE

Sobre as virtudes da esperança tem-se escrito muito e parolado muito mais. Tal como sucedeu e continuará a suceder com as utopias, a esperança foi sempre, ao longo dos tempos, uma espécie de paraíso sonhado dos cépticos. E não só dos cépticos. Crentes fervorosos, dos de missa e comunhão, desses que estão convencidos que levam por cima das suas cabeças a mão compassiva de Deus a defendê-los da chuva e do calor, não se esquecem de lhe rogar que cumpra nesta vida ao menos uma pequena parte das bem-aventuranças que prometeu para a outra. Por isso, quem não está satisfeito com o que lhe coube na desigual distribuição dos bens do planeta, sobretudo os materiais, agarra-se à esperança de que o diabo nem sempre estará atrás da porta e de que a riqueza lhe entrará um dia, antes cedo que tarde, pela janela dentro.

Quem tudo perdeu, mas teve a sorte de conservar ao menos a triste vida, considera que lhe assiste o humaníssimo direito de esperar que o dia de amanhã não seja tão desgraçado como o está sendo o dia de hoje. Supondo, claro, que haja justiça neste mundo. Ora, se nestes lugares e nestes tempos existisse algo que merecesse semelhante nome, não a miragem do costume com que se iludem os olhos e a mente, mas uma realidade que se pudesse tocar com as mãos, é evidente que não precisaríamos de andar todos os dias com a esperança ao colo, a embalá-la, ou embalados nós ao colo dela. A simples justiça (não a dos tribunais, mas a daquele fundamental respeito que deveria presidir às relações entre humanos) se encarregaria de pôr todas as coisas nos seus justos lugares.

Dantes, ao pobre de pedir a quem se tinha acabado de negar a esmola, acrescentava-se hipocritamente que “tivesse paciência”. Pense que, na prática, aconselhar alguém a que tenha esperança não é muito diferente de aconselhá-la a ter paciência. É muito comum ouvir-se dizer da boca de políticos recém-instalados que a impaciência é contra-revolucionária. Talvez seja, talvez, mas eu inclino-me a pensar que, pelo contrário, muitas revoluções se perderam por demasiada paciência. Obviamente, nada tenho de pessoal contra a esperança, mas prefiro a impaciência. Já é tempo de que ela se note no mundo para que alguma coisa aprendam aqueles que preferem que nos alimentemos de esperanças. Ou de utopias.»

[José Saramago, O Caderno; Caminho, Lisboa, Março 2009]
Dica da amiga curitibana LUCIANE