segunda-feira, 2 de março de 2009

"Oh! Minsgerais" - Mineirices III

Foto: UNIVERSO
TREM DE FERRO OU MARIA FUMAÇA QUE FAZ O TAJETO DE OURO PRETO A MARIANA
Esse é um dos muitos simbolos que traduzem a mineiridade de nosso povo assim como, as "linda mineirinha", o pãozin de queijo, o docin de leite, o queijin de Minas, a cachacinha com torresmin de tira-gosto, Tutuzin de feijão, leitãozin a pururuca, covizinha rasgada ou picadinha bem refogadinha na banha do "poirco", tudo feito numa panelinha de barro no fogão "de" lenha, as cidades históricas, suas igrejas, a fé, seus casarios e com a desconfiança do mineirin quebrada receberá, com certeza, a mais íntima hospitalidade minêra, sô. Indo tomar um cafézin numa canequinha esmaltada, sentado à bêra do fogão. Aí, é só jogar conversa mole fora.

Clique no link do YouTube abaixo e assista ao vídeo com a nossa canção símbolo, se embriague de brasilidade, se emprenhe de mineiridade.

OH! MINAS GERAIS

A Santa de Sabará - Vinicius de Morais

Foto: UNIVERSO

Portada da Igreja do Carmo em Sabará - Minas Gerais
Obra de Aleijadinho

A Santa de Sabará
À gravadora chilena Graciela Fuenzalida
que trocou o mundo por Sabará


A um grito da Ponte Velha
Existe a "Pensão das Gordas"
(Cantou-as Mário de Andrade!)
Em Sabará. Na alpendrada
Sobre o rio que escorrega
A pensão mira a cidade
Ladeira acima. Na Páscoa
As quaresmeiras da serra
São manchas roxas de mágoa
E de manhã bem cedinho
A névoa pousa na terra
Como uma anágua de linho.
A cidade se espreguiça
Nas cores do casario
Que vive a pular carniça
Nas rampas de beira-rio.
E é doce vê-la sorrindo
Aos anjos do Aleijadinho
Que na portada do Carmo
Com bochechas inchadas
Assopram, de tanto frio.
Há paz na velha cidade
Uma paz de fazer longe...
A não ser na identidade
De certa dona chilena
Uma de rosto de monja
Corpo seco, tez serena
E que, na "Pensão das Gordas"
Onde há seis anos assiste
Desde o momento em que acorda
Vive, e nem sabe que existe
Entalhando na madeira
As horas mais dolorosas
Da Paixão de Jesus Cristo.
Atende por Graciela
Mas não atende a ninguém
Que não tenha como ela
A grande paixão do bem.
Sempre fechada em seu quarto
Mesmo à feição de uma freira
As suas dores do parto
Doem na carne de madeira
Onde ela entalha o fervor
De tudo o que há de mais casto
O rebanho e o bom pastor
O burrinho no seu pasto.
E às vezes, na nostalgia
Quem sabe, do mundo fora
Grava com luzes de aurora
Com milagres da poesia.
O viajante que passa
Itinerante por lá
Não se espante se, na aurora
Ou à luz crepuscular
Vir o vulto iluminado
De um belo arcanjo pousado
Guardando a casa onde mora
A santa de Sabará.
in Poesia completa e prosa: "Poesias coligidas"
SITE: www.viniciusdemorais.com.br

A partida - Vinicius de Morais

Foto: UNIVERSO
Entardecer em Pioppe di Salvaro - Região da Bolonha - Emilia Romagna - Itália
Verão de 2006
Dedico a foto e o poema de Vinicius ao amigo Eduardo Cardim que partiu semana passada em busca de seu caminho de luz.
A partida
Quero ir-me embora pra estrela
Que vi luzindo no céu
Na várzea do setestrelo.
Sairei de casa à tarde
Na hora crepuscular
Em minha rua deserta
Nem uma janela aberta
Ninguém para me espiar
De vivo verei apenas
Duas mulheres serenas
Me acenando devagar.
Será meu corpo sozinho
Que há de me acompanhar
Que a alma estará vagando
Entre os amigos, num bar.
Ninguém ficará chorando
Que mãe já não terei mais
E a mulher que outrora tinha
Mais que ser minha mulher
É mãe de uma filha minha.
Irei embora sozinho
Sem angústia nem pesar
Antes contente da vida
Que não pedi, tão sofrida
Mas não perdi por ganhar.
Verei a cidade morta
Ir ficando para trás
E em frente se abrirem campos
Em flores e pirilampos
Como a miragem de tantos
Que tremeluzem no alto.
Num ponto qualquer da treva
Um vento me envolverá
Sentirei a voz molhada
Da noite que vem do mar
Chegar-me-ão falas tristes
Como a querer me entristar
Mas não serei mais lembrança
Nada me surpreenderá:
Passarei lúcido e frio
Compreensivo e singular
Como um cadáver num rio
E quando, de algum lugar
Chegar-me o apelo vazio
De uma mulher a chorar
Só então me voltarei
Mas nem adeus lhe darei
No oco raio estelar
Libertado subirei.

in Poemas, sonetos e baladas
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "O encontro do cotidiano"
SITE: www.viniciusdemorais.com.br